26.04.2014
Equipamentos clandestinos podem ser vistos em bairros como o Conjunto Ceará e a Granja Lisboa
No início da semana, na última terça-feira (22), o trânsito fez mais uma vítima em Fortaleza. Mas, desta vez, a imprudência do condutor não foi o único motivo da fatalidade. Após passar por uma lombada e perder o controle da moto que dirigia, a DJ Nathália Maciel, de 18 anos, moradora do Conjunto Ceará, caiu do veículo, bateu a cabeça na calçada e faleceu no mesmo dia. Implantado pelos próprios moradores do bairro de forma ilegal, o quebra-molas tinha por objetivo evitar o excesso de velocidade no trânsito, mas sem as adequações necessárias, acabou sendo um dos principais motivos do ocorrido.
De acordo com a Resolução nº39/98 do Conselho Nacional de Trânsito (SNT), a instalação de lombadas em vias públicas só é permitida em determinados locais e com aprovação das autoridades de trânsito. O dispositivo, no entanto, deve ser utilizado apenas em último caso, quando nenhuma outra alternativa seja eficiente para evitar acidentes. Apesar do uso restrito, em inúmeros bairros de Fortaleza, em especial nas áreas mais distantes do Centro da cidade, quebra-molas são instalados aos montes, sem critérios, na maioria das vezes pela população.
Acidente
Foi uma dessas ondulações irregulares que contribuiu para o acidente envolvendo Nathália Maciel. No local da ocorrência, Rua 729, no Conjunto Ceará, existem duas lombadas separadas por apenas alguns metros. Ambas são ilegais, marcadas pela ausência de sinalização. "Não tem placa nem nada pintado na pista. Não se sabe quem colocou, mas, às vezes, são os moradores, creio que para tentar reduzir a velocidade dos carros porque muita gente anda por lá", diz a designer de unhas Iara Maciel, irmã de Nathália.
Nas ruas do entorno, a prática se repete, assim como em vários outros pontos da Capital. O bairro Granja Portugal apresenta quebra-molas clandestinos até nas vias mais movimentadas. Na Rua Maria Júlia Rocha, por exemplo, que liga a região aos bairros vizinhos, muitas lombadas foram implantadas também sem permissão. Lá, o risco é ainda maior, pois, além da falta de alertas, o dispositivo é alto e o asfalto que o cobre está gasto e desnivelado. Em locais onde o pavimento se encontra em mau estado de conservação, a lei estabelece que ondulações transversais não podem ser utilizadas.
Já na Barra do Ceará, as lombadas criadas ilegalmente infringem ainda mais artigos da legislação. A Resolução nº 39/98 também determina que, nas vias em que o volume de tráfego nos horários de pico é superior a 600 veículos por hora e nas quais há fluxo de transporte coletivo, não pode haver quebra-molas. Entretanto, em plena Avenida Francisco Sá, de trânsito intenso, há elevações irregulares quase em frente a paradas de ônibus e vans. Placas e avisos, mais uma vez, são inexistentes.
Sem a sinalização e as dimensões adequadas, as lombadas podem representar grande perigo para condutores. Apesar disso, muitos defendem a implantação dos dispositivos, mesmo sem a autorização dos órgãos de trânsito como forma de forçar os veículos a reduzirem a velocidade.
A comerciante Cláudia Barroso possui estabelecimento em uma rua com dois quebra-molas colocados pela própria população e diz que, não fossem eles, a quantidade de acidentes no local seria grande. "Aqui passam muita criança, muitas pessoas a pé, e os motoristas só dirigem correndo. Se não tivesse lombada, teria acidente direto", afirma Cláudia.
Fiscalização
Segundo o vice-presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), Arcelino Lima, o trabalho de fiscalização do órgão em relação às lombadas irregulares depende da denúncia da própria população, que pode entrar em contato com o Fala Fortaleza, no número 156, e solicitar a visita de um técnico ao local. "Moradores e motoristas que trafegam por essas vias e se incomodarem com aquele obstáculo podem ligar".
A partir daí, explica ele, é verificado durante a visita se há a irregularidade, assim como a necessidade de ter o equipamento na via. "Nesse caso, solicitamos a remoção para a devida Secretaria Executiva Regional e fazemos uma projeto para a AMC construir uma lombada regular no local", diz.
Ainda segundo Arcelino Lima, a análise para instalação do equipamento é baseado na visibilidade do mesmo, no volume de veículos na via e na sua classificação viária.
Passeata
Amigos e familiares de Nathália Maciel realizarão, na próxima segunda-feira (28), uma passeata em homenagem à DJ e uma conscientização para o uso de capacete por motociclistas. Quando sofreu o acidente, a jovem não utilizava o equipamento. A concentração acontecerá na Av. Central, no Conjunto Ceará, às 17h. Logo depois, será celebrada a missa de sétimo dia de Nathália, na Praça da Esperança, também no bairro, às 19h.
Vanessa Madeira/ Renato Bezerra
Repórteres
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