domingo, 27 de abril de 2014

Coronel que confessou participação em torturas é encontrado morto

Fonte: http://www.opovo.com.br/
26/04/2014
Ex-agente do Centro de Informações do Exército, Paulo Malhães foi assassinado, segundo relatos, por asfixia. De acordo com a polícia, três homens invadiram a casa, amarraram a esposa e roubaram todas as armas do militar

DANIEL MARENCO/FOLHAPRESS

Paulo Malhães foi o primeiro militar a admitir que torturou, matou e ocultou cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar
O coronel Paulo Malhães, 74, ex-agente do Centro de Informações do Exército, foi encontrado ontem morto em sua casa, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. De acordo com os relatos iniciais, ele foi assassinado por asfixia. Malhães prestou, há cerca de um mês, um dos depoimentos mais fortes à Comissão Nacional da Verdade, no qual reconheceu envolvimento em torturas, mortes e ocultação de corpos de vítimas da ditadura militar. 

De acordo com Nadine Borges, membro da Comissão Estadual da Verdade do Rio que conversou com uma das filhas do militar, a casa de Malhães foi invadida por três homens. Segundo o relato, a mulher do coronel foi amarrada e ele, morto por asfixia. Todas as armas do militar foram roubadas. “A polícia tem que investigar a fundo esse crime. Tudo indica que é uma queima de arquivo”, disse Borges.

O depoimento de Malhães chocou familiares de vítimas da ditadura. Ele detalhou como os corpos eram lançados no rio e dilacerados para evitar a identificação.

“Naquela época não existia DNA, concorda comigo? Então, quando o senhor vai se desfazer de um corpo, quais são as partes que, se acharem o corpo, podem determinar quem é a pessoa? Arcada dentária e digitais, só. Quebravam os dentes e cortavam os dedos. As mãos, não. E aí, se desfazia do corpo. O coronel morava com a família na zona rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.
 
8 horas na casa
O delegado Fábio Salvadorete, encarregado das investigações sobre a morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães, confirmou que foram três homens que entraram no sítio do militar, em uma área rural de Nova Iguaçu. Eles fizeram a mulher dele e o caseiro reféns e ficaram na casa por oito horas.

De acordo com o delegado, a polícia tomou conhecimento da morte do coronel Malhães, por volta das 9 horas da manhã de ontem. Os homens levaram armas antigas que o militar colecionava e computadores da casa. O delegado Fábio Salvadorete disse que a vítima não foi morta a tiros e sim por asfixia, mas que está aguardando o laudo do Instituto Médico-Legal, que determinará a causa da morte.

A Polícia Civil informou que a mulher do coronel reformado e o caseiro foram ouvidos. Os agentes buscam imagens de câmeras de segurança que possam auxiliar na identificação dos criminosos. O caseiro será encaminhado para ajudar no retrato falado dos assassinos. (das agências)

Saiba mais

A Comissão Nacional da Verdade solicitou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal acompanhe as investigações sobre a morte de Paulo Malhães. O coordenador da CNV, Pedro Dallari, pediu a Cardozo que a PF acompanhe as investigações da Polícia Civil do Rio.

A Comissão da Verdade de São Paulo “Rubens Paiva” também divulgou nota em que manifestou "surpresa e preocupação com o assassinato" do coronel. A entidade lembra que Malhães revelou "detalhes importantes sobre a execução sumária e a ocultação do cadáver do ex-deputado Rubens Paiva, além de outras informações sobre o funcionamento da chamada 'Casa de Morte' de Petrópolis"."As circunstâncias em que ocorreu o assassinato de Paulo Malhães, no interior de sua residência, sem que nada tenha sido subtraído e na presença de seus familiares, indicam a necessidade de apuração rigorosa e célere dos fatos para que se desvende, o mais rápido possível, a motivação desse crime", diz a nota.

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