27/04/2014
Na primeira infância, de 0 a 3 anos, é preciso mais cuidado com o desenvolvimento da criança. Tecnologia pode trazer benefícios, com moderação e metodologia. Mas nada substitui a interação com os pais e o ambiente
EDIMAR SOARES
o tempo em que o número de celulares chega a ser maior do que o de pessoas, bebês já não são apenas coadjuvantes da era tecnológica. Eles nem falam ainda, mas movimentam o dedo indicador no touch screen de um tablet ou smartphone. Em frente às telas, opções de vídeos, aplicativos, jogos, entretenimento. Fora delas, correr na praça, aprender com os pais, brincar com brinquedos, interagir com o outro. Sim, pode ser tudo junto! Desde que haja metodologia e moderação.
Inseridos no cotidiano infantil há poucos anos, os chamados gadgets (dispositivos eletrônicos portáteis) ainda não tiveram seu efeito medido através de pesquisas específicas. A Associação Americana de Pediatria, porém, já havia sugerido, em 2009, que crianças menores de dois anos não deveriam ter nenhum contato com mídias.
Mas a geração digital está aí, filha de pais que descobriram – e ainda descobrem- as maravilhas dos apps (aplicativos) e da navegação. Os sons, as imagens, os formatos... Encantamento e diversão para as crianças, ferramentas educativas e momentos de sossego para os pais. “Grávida, eu dizia que meu filho nunca ia assistir a esses vídeos no celular ou tablet. Na prática é diferente, porque tem hora que você precisa desse entretenimento”, afirma a publicitária Rebeca Sousa de Saboia, 28, mãe do Gustavo, de um ano e dois meses. Conforme ela, não teve jeito. Para que a avó pudesse cuidar do pequeno enquanto os pais trabalhavam, foi preciso recorrer à sessão infantil de um site que oferece serviços de TV. “Minha mãe precisava cuidar do meu pai, doente, e fazer outras coisas de casa”, ressaltou. Para Rebeca, que pesquisou sobre a temática “tecnologia e crianças”, os programas virtuais podem colaborar para o aprendizado. “O problema é quando descontrola e a criança passa o dia inteiro na frente daquilo”, frisou.
Desenvolvimento
O professor de neurologia infantil da Faculdade de Medicina da USP, Saul Cypel, pondera que o problema não é a tecnologia e os aparelhos de informática, mas o uso inadequado. “Seja pelo excesso ou pela introdução em etapas da vida onde os equipamentos não trazem benefícios, como a primeira infância (zero a três anos). Quanto menor a idade, menos interessante para o desenvolvimento da criança”, afirma. O especialista destaca que para o desenvolvimento neste período da vida, que inclui noções de necessidade, aptidões e convivência, “mais importante do que qualquer aparelho ou música é a interação com os pais e o ambiente”.
Sobre os possíveis danos cerebrais que o excesso de exposição midiática pode causar na primeira infância, Saul Cypel diz não haver evidências concretas. “As evidências de alteração nos neurônios são de crianças negligenciadas. E você deixar um filho durante horas em frente à uma tela é um tipo de negligência”, acrescenta. O especialista ressalta que, do ponto de vista motor, o uso dos gadgets pode trabalhar alguma habilidade. O prejuízo, entretanto, estará em questões maiores, de linguagem ou psicológicas. “Não é a televisão ou o tablet que vão mostrar a fase em que a criança achará engraçado colocar o dedo na tomada. Autonomia e capacidade ela só vai desenvolver na relação com o outro. E os pais precisam saber disso, saber que o desenvolvimento cerebral nos primeiros anos de vida é resultado da relação de parentalidade”, considera.
Dicas
1 Cuidado com as escolas que usam os gadgets para impressionar os pais, mas não possuem uma proposta pedagógica de uso.
2 Use aplicativos para criar jogos, montar histórias, vídeos e fotos junto à criança, fazendo-a autora da produção tecnológica, não apenas consumista.
3 Jogos educativos podem estimular à criatividade e o aprendizado.
4 Livros digitais podem fornecer mais interatividade, com animações, vídeos e animações.
5 A mobilidade dos equipamentos permite que a interação aconteça entre as crianças e o ambiente.
6 Se a criança ficar apenas no prazer atrativo dos programas virtuais poderá não desenvolver tarefas e habilidades necessárias ao dia a dia.
7 Jogar com outra pessoa, e não apenas com o computador, faz com que a criança tenha a noção do que é perder, esperar, seguir regras.
8 Os pais precisam saber como acontece e o que é necessário para o desenvolvimento dos filhos.
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