domingo, 17 de agosto de 2014

Um gênio brasileiro das equações

Fonte: http://www.opovo.com.br/
17/08/2014

YONHAP/AFP
Artur Ávila recebeu a Medalha Fields em Seul


O brasileiro Artur Ávila ficou famoso entre os matemáticos do mundo por sua capacidade em resolver problemas sobre sistemas dinâmicos, o que lhe valeu, na última terça-feira, 12, a Medalha Fields, o “Nobel dos números”, a primeira para a América Latina. A cerimônia foi em Seul, na Coreia.

Aos 35 anos, Ávila vive entre o Rio de Janeiro e Paris, onde, desde 2003, trabalha no Centro Nacional de Pesquisa Científica francês (CNRS). “Príncipe das equações”, como foi chamado pela revista especializada do CNRS, tem um estilo tranquilo: sua condição física revela que frequenta academia, longe da caricatura de um nerd ou de rato de biblioteca perdido em cálculos.

“Gosto de fazer matemática na praia, você caminha, e pensa”, comentou o brasileiro à publicação. Esta reflexão “cool” permite que ele compreenda os problemas antes de afundar em suas equações escritas. O sistema deu resultado, ao que parece, a julgar por seus trabalhos bem-sucedidos com 30 matemáticos de todo o mundo.

“Nestas colaborações, Ávila forneceu uma capacidade técnica formidável, a ingenuidade e a tenacidade de um mestre na solução de problemas”, segundo o Congresso Internacional de Matemática (ICM), que deu a ele a Medalha Fields.

Após a conquista em Seul no ICM, que se reúne a cada quatro anos e premiou pela primeira vez um latino-americano, chegaram as felicitações dos presidentes de Brasil e França. A coroação de uma corrida não livre de obstáculos.

Seu interesse pela disciplina começou aos 13 anos, quando participou das Olimpíadas Internacionais de Matemática, disputada por estudantes do ensino médio. As primeiras participações foram fracassadas: o adolescente desconhecia partes inteiras do programa. Isso atingiu seu orgulho e o levou pela primeira vez ao Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio.
 
Planetas, povos, oceanos
Após várias tentativas, terminou conquistando a medalha de ouro e a atenção de Wellington de Melo, professor do prestigiado instituto. A partir daí seu périplo se acelerou: se formou na escola, entrou no Impa e aos 19 anos se lançou em uma tese de “dinâmica unidimensional”, defendida em 2001.
Foi durante a tese que descobriu a Europa, por Paris.

Aprendeu francês e se apresentou ao concurso do CNRS, que o rejeitou em duas oportunidades - em 2001 e 2002. Em 2008, virou diretor de pesquisa do CNRS, aos 29 anos. Ali desenvolveu a especialidade de “sistemas dinâmicos”, ou seja, que evoluem com o tempo.

O movimento dos planetas, a dinâmica das populações e dos oceanos são alguns exemplos concretos das equações abstratas com as quais lida diariamente. Junto a outros pesquisadores, resolveu nesta época três dos 15 “problemas para o século XXI” levantados em 2000 pelo matemático Barry Simon.

A Medalha Fields lhe escapou por pouco em 2010. Foi quando decidiu frequentar a academia para liberar energia e dormir bem. Ávila espera que sua medalha inspire outros jovens do Brasil a buscar o campo da matemática, mais acessível que carreiras de engenheiro, médico ou advogado.

“Acredito que muita gente nem imagina que existe a pesquisa em matemática, pensam que é uma disciplina na qual tudo já foi concluído, definido e conhecido”, comentou Ávila, cidadão francês desde 2013.

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