02.08.2014
Rio de Janeiro. Após colher depoimentos de militares que atuaram durante a ditadura militar brasileira, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) fez ontem um balanço das atividades da semana - dos 38 depoentes convocados, 23 compareceram, no Rio de Janeiro e em Brasília - e seu coordenador, Pedro Dallari, traçou um paralelo entre o Brasil atual e do período do regime militar, que durou 21 anos.
"A tortura persiste como uma política sistemática na segurança do país. Ela ainda é vista como algo comum e corriqueiro", disse Dallari. O coordenador também afirmou que o caso do pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha, detido na comunidade por policiais militares em 14 de julho de 2013, levado à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), torturado e morto, cujo corpo foi desaparecido, remete ao caso Rubens Paiva, dado como desaparecido durante o regime militar.
Engenheiro civil e político brasileiro, Rubens Beyrodt Paiva nasceu em Santos em 1929. Ativista com atuação no Rio de Janeiro, teve sua morte confirmada mais de 40 anos depois, após depoimentos de ex-militares envolvidos no caso. Ele foi torturado e assassinado nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971. "O caso Amarildo é o caso Rubens Paiva", afirmou Dallari.
"No país ainda se usa mecanismos criados desde a época de Getúlio Vargas", afirmou a advogada Rosa Cardoso, integrante da comissão. "Temos que desmontar esses aparelhos de terror", disse, referindo-se à tortura e coerção de presos.
Outro membro da CNV, o professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro, afirmou que o recente monitoramento de movimentos sociais por parte do Exército é um escândalo. Ele disse que a democracia brasileira ainda está se consolidando, mas descartou a possibilidade de um levante militarista aos moldes do regime. Também ontem, a comissão ouviu mais três pessoas no Rio: Celso Lauria, Zilson Luiz Pereira da Cunha e o sargento da Aeronáutica Luciano José Marinho de Melo.
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