09/08/2013 18h19
Redação SRZD
O cartunista que vem sofrendo ameaças de morte após fazer uma declaração polêmica no Facebook sobre o caso da família encontrada morta na Vila Brasilândia (SP) conversou com oSRZD.com para esclarecer a intenção da mensagem, postada no dia seguinte à chacina. Carlos Latuff afirmou na rede social, na última terça-feira, que o menino suspeito de matar os pais PMs merecia "atendimento psicológico e uma medalha".
Segundo o artista e ativista político, conhecido por trabalhos em crítica à violência policial e à ditadura militar, a postagem foi uma oportunidade para abrir um debate sobre a educação dada a Marcelo Pesseghini, de 13 anos, pelos pais, que eram um casal de policiais militares.
"Na ocasião, tinham dito que o pai ensinou o garoto a atirar. Eu queria provocar o questionamento sobre a educação que ele recebeu para chegar ao ponto de pegar a arma do pai e matar a família, caso tenha realmente cometido o crime. Eu acho que o artista, principalmente o que trabalha com humor, tem essa coisa da provocação. De certa maneira eu consegui o meu objetivo, porque as pessoas estão discutindo o assunto", explicou Latuff ao SRZD.
Ameaças públicas e privadas
O ativista foi ameaçado por uma ex-policial militar de São Paulo que seria atual funcionária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) com uma mensagem privada: "Você é um lixo humano... Cai na minha frente que vou te mostrar como tratar uma pessoa como você... Vou meter a .40 (arma de fogo) na tua cara". Um tenente da Brigada Militar de Santa Catarina mandou um recado público: "Se cruzar comigo, 'baixo ele', lugar de vago é na vala, aqui no Sul não se cria...".
A página "Fardados e Armados" postou a seguinte mensagem na rede social, que depois foi apagada: "Guerreiros do Sul - RS, SC e PR se esbarrarem com esse sujeito já sabem de quem se trata. Declaradamente contra as forças policiais esse LIXO maconheiro está festejando a morte da família do Sargento Pesseghini da ROTA/SP."
O cartunista contou que as mensagens intimidatórias partem sobretudo de grupos ideológicos de extrema direita favoráveis ao uso da força. Apesar de a maior parte das ameaças e dos insultos partir de membros de comunidades defensoras da polícia na rede social, Latuff ressalta que a maioria deles não é policial. O ativista informou que denunciou os fatos ao comando da Brigada Militar e à Secretaria de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul.
"Tem o lutador de Jiu-Jitsu, o que malha na academia, o anticomunista, o antipetista... Essas pessoas são atraídas pelo ideal de gente que defende a ditadura e a execução de criminosos. A maioria mostra nome e rosto e faz comentários do tipo 'se você for assaltado, vai chamar o Batman?'. Me chamam de vagabundo, bandido, chincheiro e coisas semelhantes".
O carioca, de 44 anos, que foi detido pelo menos três vezes, nos anos 1999, 2000 e 2007, por conta de charges que ironizavam as condutas da polícia, questiona onde foi parar a liberdade de expressão no Brasil e o motivo de ainda ser um tabu contestar as práticas policiais. "Você pode ser assassinado por causa de uma opinião que expressou no Facebook? Quando se trata da polícia não se pode falar nada? Que esse incidente tenha visibilidade e se questione 'vivemos num regime democrático ou não?'".
A primeira ocasião em que Latuff foi encaminhado à delegacia para prestar esclarecimentos foi em 1999, quando fez uma exposição de cartazes que protestava: "A polícia mata!". O material dele foi apreendido. Em 2000, a polícia o deteve enquanto ele grafitava um muro contra a chamada "banda podre" da polícia. Em 2007, o motivo foi o uso do mascote dos jogos Pan-americanos em uma charge, que trazia uma arma e a imagem do caveirão do Bope ao fundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário