13/02/2015
Segundo o delator, o ex-ministro do governo Lula e Antonio Palocci tinham "ligações" com um dos empresários que teria pago suborno a diretores da Petrobras. Outro trecho contradiz depoimento de contadora
PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
O doleiro Alberto Youssef afirmou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que cumpre pena por participação no escândalo do mensalão, sabia que o PT recebia recursos de empreiteiras que pagaram propina para fazer negócios com a Petrobras.
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Segundo Youssef, Dirceu e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci tinham “ligações” com um dos empresários que admitiu ter pago suborno a diretores da estatal.
O depoimento de Youssef foi prestado aos procuradores da Operação Lava Jato em caráter sigiloso em 10 de outubro e tornado público pela Justiça Federal ontem.
Youssef, que decidiu colaborar com a Justiça em troca da redução de sua pena, disse que Dirceu era “amigo” do empresário Julio Camargo, que também fez um acordo de delação premiada com as autoridades. Camargo não citou Dirceu em seus depoimentos. Dirceu repudiou as declarações de Youssef. A assessoria de Palocci disse que ele não comentaria o depoimento.
O doleiro disse que recebeu recursos de Camargo no exterior e distribuiu valores equivalentes para escritórios do empresário no Rio e em São Paulo, destinados ao PT.
Antes do repasse ao partido, Youssef descontou a sua parte do suborno e de outros funcionários da Petrobras.
“O dinheiro entregue pelo declarante [Youssef] em São Paulo servia para pagamento da [empreiteira] Camargo Corrêa e da Mitsui Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu”, disse o doleiro, referindo-se ao tesoureiro do PT, João Vaccari.
Youssef afirmou ainda ter visto, em poder de um operador de Camargo, uma planilha de pagamentos de propina e caixa dois com diversos apelidos e valores. Dirceu, segundo o doleiro, era identificado como “Bob”, apelido de um ex-assessor de Dirceu.
Sem provas
Em relação ao papel do ex-ministro, o doleiro não apresentou à PF provas documentais de suas afirmações nem explicou como teria conhecimento da eventual participação de Dirceu no esquema.
As autoridades já haviam descoberto que Dirceu recebeu, por meio de sua consultoria, R$ 4,6 milhões das empreiteiras UTC, Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e OAS. Executivos dessas empresas estão presos desde novembro sob acusação de envolvimento no esquema.
Segundo Youssef, Dirceu usou “em diversas oportunidades”, depois que deixou o governo Lula, em 2005, um jatinho modelo Citation Excel pertencente a Camargo e que ficava no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O doleiro disse não saber quantas vezes o avião foi utilizado nem a razão dos voos.
Youssef também relatou que entregou R$ 800 mil a Vaccari e à sua cunhada, Marice Corrêa Lima, a mando da Toshiba Infra-Estrutura, que faz parte do grupo japonês. (das agências de notícias)
Saiba mais
Ao justificar ontem a divulgação de 63 novos depoimentos das delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor Paulo Roberto Costa na Operação Lava Jato, o juiz federal Sérgio Moro, no Paraná, afirmou não se tratar de “vazamento” e que o Judiciário não é “guardião de segredos sombrios”.
Em seu despacho, Moro explicou que recebeu os depoimentos do STF (Supremo Tribunal Federal) em 21 de janeiro e que precisou examiná-los para verificar se a divulgação não prejudicaria as investigações em andamento.
Apesar de ressalvar que as delações ainda carecem de provas, Moro ponderou que elas já estão “parcialmente” amparadas. Os depoimentos divulgados não incluem os que citam autoridades com foro privilegiado - ainda sob sigilo e em exame pela Procuradoria-Geral da República.
Defesa de vários dos acusados já tentaram, sem sucesso, remover o juiz Moro da Lava Jato.
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