domingo, 7 de setembro de 2014

NO CEARÁ Academias irregulares apresentam estruturas e serviços inadequados

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
07.09.2014
Segundo o Conselho Regional de Educação Física, principais falhas são falta de alvará e instrutores sem registro

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Na Forma Atlética Academia, oito professores de educação física ficam responsáveis por fazer avaliação física e orientar os alunos
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Muitos frequentadores de academias e centros desportivos do Estado escolhem o local para malhar com base no preço e não na qualidade do serviço
FOTOS: BRUNO GOMES
A busca incessante por um corpo torneado, pelo emagrecimento ou por um bom condicionamento físico é o que faz milhares de homens e mulheres lotarem diariamente as academias de ginástica e centros desportivos em toda a cidade. Não é à toa que o número de estabelecimentos do gênero em Fortaleza aumenta, a cada ano, cerca de 20%, conforme dados do Conselho Regional de Educação Física da 5ª Região (CREF5). O crescimento, no entanto, não significa melhor oferta de serviço, pelo contrário. A ampliação do mercado também vem abrindo brechas para o surgimento de espaços que, sem estrutura, manutenção e trabalho adequados, podem atuar na contramão da vida saudável.
Monitorando o cumprimento das exigências para o funcionamento dos lugares prestadores de atividades físicas, o CREF visitou, no primeiro semestre deste ano, 682 academias e estabelecimentos de prática esportiva no Estado. Destes, 491, aproximadamente 72%, apresentaram irregularidades, que vão desde a ausência de alvará de funcionamento e Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) à falta de conservação dos equipamentos e de profissionais devidamente credenciados para atuar no treinamento físico dos alunos. Esta última é a mais frequente.
Instrutores
"Os profissionais de academias devem ser registrados no Conselho e o responsável por toda a parte técnica da academia e têm que ser graduado em nível superior em Educação Física, mas vemos muitos estagiários exercendo a profissão e até leigos, o que é crime federal", denuncia o presidente do CREF5, Antônio de Pádua Muniz Soares. No mês passado, dos 148 instrutores que passaram pelo monitoramento da entidade, 35% não possuíam registro.
O número de irregularidades, contudo, pode ser ainda maior, uma vez que nem todas as academias do Estado chegam ao conhecimento dos órgãos fiscalizadores. Somente em Fortaleza, existem, hoje, 455 espaços cadastrados no CREF55 e outros tantos sem qualquer autorização para operar. No Ceará, são 766 academias e centros desportivos registrados.
Soares destaca que a ausência de documentações e certificados da Prefeitura Municipal e da Vigilância Sanitária também é uma das principais falhas. "A pessoa abre o estabelecimento, coloca uns equipamentos dentro e chama de academia, mas não tem alvará de funcionamento, não tem credenciamento, não tem nada. Se você chegar em uma academia e não estiverem expostos os registros do Conselho e da Prefeitura, já está errado", relata o presidente.
Desrespeito
A reportagem visitou algumas academias de Fortaleza e constatou de perto o desrespeito às determinações da Anvisa. Em um dos espaços averiguados, situado no bairro São João do Tauape, apenas um estagiário estava presente para receber os clientes. Segundo ele, o proprietário e educador físico do local haviam saído para uma sessão de treinamento personalizado no início da manhã e, por volta de meio-dia, ainda não tinham retornado. Também não constavam à mostra alvará de funcionamento nem credenciais da Vigilância Sanitária, e a academia não fazia parte da relação de estabelecimentos cadastrados no CREF. Os equipamentos, velhos e enferrujados, visivelmente careciam de manutenção.
Todas as exigências estão previstas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Embora seja realizada diariamente, a fiscalização não dá conta da grande quantidade de estabelecimentos na cidade, que se expande a cada dia. Agravando a situação, Soares explica que muitos usuários, mais preocupados em gastar menos, optam por serviços mais baratos e, na maioria dos casos, não procuram saber sobre a qualidade do serviço.
A estudante Caroline Rodrigues, 23 anos, por exemplo, malha há seis meses na Capital, mas confessa que a presença de profissionais capacitados não foi o fator decisivo na hora de escolher a academia. "O que realmente me importou na época foi o valor acessível da mensalidade e a proximidade de casa", afirma. Hoje, no entanto, ela reconhece que o trabalho de um educador físico é imprescindível. "Só ele pode avaliar se os exercícios que fazemos estão corretos para não prejudicar nossos movimentos no futuro", completa.
Punições
"Tem gente que acha ruim pagar uma mensalidade um pouco mais cara, mas é preciso valorizar a atividade física. É uma questão de saúde. Se não, depois, quanto você vai pagar no tratamento?", salienta Pádua Soares.
Os estabelecimentos flagrados na ilegalidade são autuados e têm o prazo de 15 dias para se regularizarem. Caso as medidas de adequação não sejam tomadas dentro do período, os locais são interditados pelo CREF5 em parceria com o Decon até que a documentação em falta seja providenciada ou que as outras exigências sejam cumpridas.
FIQUE POR DENTRO
Procon e Decon fiscalizam práticas abusivas
Os programas municipal e estadual de proteção e defesa do consumidor, Procon e Decon, realizam, desde o fim de julho, operações de fiscalização contra práticas abusivas nas academias da Capital relacionadas às formas de pagamento de mensalidade.
As ações tiveram início após a denúncia de que alguns estabelecimentos estariam exigindo a utilização de cartões de crédito para quitar as cotas mensais dos alunos e impedindo que a transação fosse feita em dinheiro. Uma academia da cidade, a SmartFit Aldeota, foi autuada e interditada por nove dias até se adequar às normas do Código de Defesa do Consumidor. Também foi constatado que a empresa não possuía registro sanitário, nem credenciamento no CREF5. Outros 50 espaços passaram pelo monitoramento, cujo resultado deve ser divulgado nos próximos dias.
Má orientação pode acarretar lesões
Com atividades físicas executadas sem orientação correta e em locais inapropriados, o que deveria ser benefício torna-se prejuízo. A consequência imediata é a ocorrência de lesões, as quais têm levado muitos frequentadores de academia aos consultórios médicos da cidade.
O fisioterapeuta Fabiano Moura, especialista em Fisioterapia Desportiva, afirma que um grande percentual das pessoas que fazem musculação e outras modalidades de exercícios já ficaram lesionados em algum momento devido à prática de forma incorreta.
"Existem muitas pessoas sem capacitação adequada passando aquela receita de bolo: 'três sessões de dez, três sessões de 20'. E quem pratica o exercício às vezes acha que, se está doendo, é porque está dando certo, mas não é assim. Se lesionou, se está incomodando, tem que parar", destaca o profissional. Algumas das lesões mais frequentes, conforme o especialista, são tendinite, bursite, lombalgia, distensões e hérnia.
O fisioterapeuta ressalta que é fundamental, nas academias, a realização de avaliação física e análise de histórico médico do aluno por um profissional em Educação Física antes de iniciar os treinamentos.
Acompanhamento
"Ele tem que saber quais são as limitações daquela pessoa que quer começar a malhar, se tem algum problema na coluna, nos joelhos. Assim, essa pessoa vai receber cargas que fortaleçam e façam crescer os músculos de maneira correta", pontua Fabiano Moura.
Outro estabelecimento visitado pela reportagem, a Forma Atlética Academia, no bairro Pio XII, dispõe de uma equipe de oito professores de Educação Física, todos registrados no CREF5, para trabalhar na orientação e no treinamento dos alunos. Durante a semana, entre 500 e 600 pessoas frequentam o local para praticar exercícios. Os mais velhos têm por objetivo promover a saúde, já os mais jovens se concentram mais na estética. Mas, segundo Joaquim Cabral Filho, um dos educadores físicos do espaço, independentemente da idade dos alunos, quase metade deles chega à academia com problemas pré-adquiridos de coluna e joelhos.
Dor crônica
No espaço, cada aluno passa, primeiramente, pela avaliação física, que irá identificar quais são os exercícios mais apropriados. Caso alguma das atividades seja mais pesada que o esperado, o cliente é incentivado a relatar aos técnicos a dificuldade e dizer se a prática causou dor.
"Muitas pessoas têm essas condições e nem sabem. Se não houver o acompanhamento de uma pessoa capacitada, que saiba conduzir o exercício, esse problema vai ser piorado com o tempo e pode se tornar crônico", alerta Joaquim.
SAIBA MAIS
Tendinite
Inflamação dos tendões por conta da realização repetitiva e excessiva de movimentos. Também pode ser ocasionada pela utilização de uma técnica incorreta nos exercícios.
Bursite
Inflamação de uma ou mais bursas de fluido sinovial, presentes nas articulações. Afeta, principalmente, ombros, cotovelos e joelhos.
Lombalgia
Quadro de dor na região lombar. Está relacionada ao mau condicionamento físico e à sobrecarga muscular.
Hérnia discal
Fissura nos anéis que envolvem os discos intervertebrais, comprimindo as raízes nervosas que emergem da coluna. Pode ser causada por levantamento de pesos excessivos, postura incorreta ou por trauma
Vanessa Madeira
Repórter
Mais informações
 
Denúncias podem ser feitas ao Conselho Regional de Educação
Física da 5ª Região, na Avenida Washington Soares, 1400, Salas 402 e 403.
Telefone: 3262.2945.
E-mail: cref5@cref5.org.br

Um comentário:

  1. Ir a uma academia pelo menor preço nem sempre é uma boa decisão. Por outro lado, muitas academias grandes e que cobram caro, contratam alunos do curso de educação física, e não profissionais formados, para pagar salários menores.

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