domingo, 4 de janeiro de 2015

PERIGO DE EXTINÇÃO Jubarte sai e boto entra na nova lista

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
04.01.2015
Documento do Ministério do Meio Ambiente aponta: Brasil tem 3.286 espécies ameaçadas da fauna e flora

O Ano-Novo chega com boas e más notícias em relação à fauna e floras cearenses: a baleia jubarte sai da lista vermelha das espécies em grave risco de extinção para a categoria quase ameaçada. O peixe-boi mudou de classificação, passando de criticamente ameaçado para em perigo. No outro lado, o boto-cinza entra na relação dos ameaçados em grau vulnerável.
Por sua vez, o soldadinho-do-araripe, ave somente encontrada no Ceará, permanece na categoria criticamente em perigo.
As mudanças fazem parte das listas nacionais de espécies ameaçadas de extinção da fauna e flora, divulgadas recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente. O documento é considerado o mais completo e amplo já publicado no Brasil e oferece parâmetros para elaboração de políticas eficazes de conservação da biodiversidade nacional.
Para biólogos e entidades não governamentais que atuam na defesa dessas espécies, a retirada da baleia jubarte da lista e a mudança de categoria do peixe-boi foram precipitadas e podem colocar em risco todo o trabalho realizado até então.
Na visão da pesquisadora da ONG Aquasis, Carol Meireles, que inclusive participou das reuniões em Brasília, anda há necessidade de muitos esforços para a Jubarte sair da lista de espécies ameaçadas. "No entanto, o fato de não ser considerada mais criticamente ameaçada o exclui de alguns editais nacionais para projetos e isso sim será ruim".
Carol explica que as listas foram feitas com base no método de classificação mais aceito no mundo para determinar o risco de extinção e criado, em 1963, pela organização não-governamental IUCN - sigla inglesa para União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.
O método da IUCN divide as espécies em sete graus de ameaça: extinta na natureza, criticamente em perigo, em perigo, vulnerável, quase ameaçada e pouco preocupante.
Alerta
No Ceará, as espécies que se encontram em pior situação são classificadas como criticamente em perigo. São elas a tartaruga-de-couro, periquito-cara-suja e soldadinho-do-araripe.
Sobre a inclusão do boto-cinza na lista dos animais vulneráveis, Carol diz que é favorável. "Eu fiz parte da equipe que propôs a classificação de vulnerável para o boto-cinza. Essa espécie sofre com muitos impactos antrópicos (ação do homem sobre a natureza). No Estado é o mamífero marinho que mais encalha. Antes ele não estava na relação", ressalta.
Outra novidade da lista da fauna brasileira é o cachorro-vinagre (Speothos venaticus). É o mais recentemente descoberto em terras cearenses, mais precisamente no município de Aratuba. O animal está ameaçado pelo desmatamento, pela fragmentação e alteração de habitats, por doenças e pela caça.
O doutor em Mastozoologia da Universidade Federal da Paraíba, Hugo Fernandes-Ferreira, considera o trabalho como um dos melhores projetos governamentais sobre conservação já desenvolvidos no país.
Essa lista atual, analisa, foi baseada através da consulta de um número maior de pesquisadores, muitas vezes aqueles que se especializaram em uma espécie ou família. Os dados, dessa forma, foram muito melhor avaliados e foi possível chegar ao esforço de 100% dos mamíferos, répteis e anfíbios do Brasil.
A maior parcela desses animais, aponta, saiu das zonas de ameaça porque, ao longo desses anos, os especialistas tiveram acesso a novos dados e concluíram que existem, naturalmente, populações estáveis de algumas espécies cujas pressões de ameaça não são suficientemente fortes para justificar a inclusão.
Esse foi o caso por exemplo do anfíbio Adeloprhyne baturitensis, que ocorre somente no Ceará. "Antigamente, acreditava-se que ele só existia na Serra de Baturité, mas sua descoberta na Serra da Ibiapaba e os apontamentos de populações estáveis nesses locais fizeram com que a espécie saísse da lista. Na de 2008, era considerada como vulnerável à extinção", afirma.
Hugo ainda salienta que a nova lista foi importante porque abriu espaço para pesquisadores de cada região do país, possibilitando a inclusão de espécies que não eram muito conhecidas de pesquisadores da região sul e sudeste (na lista antiga, a maioria dos pesquisadores eram dessas regiões). O mocó (Kerodon rupestris), exemplifica, roedor que ocorre em lajedos da Caatinga (inclusive no Ceará) está ameaçado pela pressão de caça e perda de habitat. Nas listas antigas, nunca foi incluído, apesar dessas pressões já existirem desde décadas atrás. "Nessa atual, ele consta como "vulnerável". Passo importante para a conservação da espécie", avalia.
Para ele, empreendimentos que envolvam, por exemplo, mineração em lajedos terão que considerar um plano de manejo específico para o mocó para atender a legislação ambiental a partir de agora. Além disso, reafirma, uma espécie envolvida nessa lista pode facilitar patrocínios para projetos de conservação que envolve a proteção de todo o seu habitat, ou seja, outras espécies (inclusive da flora) também são beneficiadas.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, apesar de outras terem sido publicadas antes (em 2003 e 2008, respectivamente), esta é a primeira vez que quase todas as espécies conhecidas do Brasil foram avaliadas de uma só vez (100% dos vertebrados terrestres e aquáticos, mais um grande número de plantas e invertebrados).
As novas listas ampliaram em 800% a quantidade de espécies avaliadas em comparação ao último levantamento, divulgado em 2003. Feita entre 2010 e 2014, a pesquisa considerou 12.256 espécies da fauna brasileira, incluindo 100% das espécies conhecidas de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, e cerca de 3% das espécies de invertebrados. Na lista anterior, divulgada em 2003, haviam sido avaliadas 816 animais. "A dificuldade com os insetos é que eles são tão diversos que se torna praticamente impossível avaliar todas as espécies simultaneamente", frisam os pesquisadores.
Os resultados incluem a avaliação de espécies antes não descritas, a exemplo do macaco-prego-galego, encontrado na Mata Atlântica nordestina, e que já entrou na lista como espécie ameaçada. Três espécies consideradas extintas foram reencontradas pelos especialistas, como a libélula fluminagrion taxaense, a formiga simopelta minina, e o minhocuçu rhinodrilus sasner.
Em relação à flora, as espécies em perigo estão localizadas principalmente nos biomas da Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. No Ceará, estão classificadas como muito vulneráveis o umbuzeiro, bromélias e pirunga.
Mais informações:
Listas nacionais de espécies ameaçadas de extinção - fauna
Lêda Gonçalves
Repórter
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