10.01.2015
Os dois suspeitos do atentado, quatro reféns e um sequestrador foram mortos. A polícia busca uma envolvida
Paris. A Al Qaeda no Iêmen dirigiu o ataque contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo em Paris, disse ontem um integrante do grupo, conhecido como Al Qaeda da Península Arábica (AQAP, na sigla em inglês).
"A liderança da AQAP dirigiu as operações e escolheu seu alvo cuidadosamente", afirmou.
Segundo o integrante do grupo, que forneceu à agência Associated Press uma declaração em inglês, o massacre de 12 pessoas no jornal, conhecido por zombar das religiões, foi "uma vingança pela honra" do profeta Maomé.
No comunicado, ele afirma que o ataque correspondia aos alertas feitos pelo líder da Al Qaeda Osama bin Laden, morto em maio de 2011, ao Ocidente sobre "as consequências da persistência na blasfêmia contra as santidades muçulmanas".
Ele acrescentou que o grupo demorou em reivindicar autoria pela ação por "razões de segurança". No dia do ataque, testemunhas disseram que os atiradores haviam afirmado que o ataque era obra da AQAP.
A informação surgiu depois dos irmãos Said Kouachi, 34, e Chérif Kouachi, 32, suspeitos pelo massacre no jornal, terem sido mortos durante ação policial em uma pequena gráfica em Dammartin-en-Goële, a 35 km a nordeste da capital francesa. Previamente, eles haviam afirmado estar prontos para morrer.
Segundo uma fonte policial, eles foram mortos depois de abrir fogo contra forças policiais que invadiram seu esconderijo. Uma pessoa que era mantida como refém foi libertada.
Em uma ação separada, um homem identificado como Amedy Coulibaly, 32, que manteve reféns em um supermercado kosher em Port de Vincennes, no leste de Paris, também foi morto. O sequestrador matou quatro reféns antes de a polícia entrar no local.
Coulibaly, um criminoso que já havia sido condenado em um caso de extremismo islâmico, conheceu Chérif Kouachi na prisão, onde os jihadistas se radicalizaram. Segundo a polícia, ele era suspeito de ter matado uma policial e ferido outra pessoa, na quinta (8), em Montrouge.
Em declarações ao canal francês BMFTV, Coulibaly, que disse pertencer ao Estado Islâmico, confirmou ter sido enviado e financiado pela AQAP e que sua ação foi coordenada com os assassinos do Charlie Hebdo.
A polícia procura agora a namorada de Coulibaly, Hayat Boumeddiene, de 26 anos. Ela é suspeita de agir junto com o parceiro na morte da policial Clarissa Jean-Phillipe na quinta (8).
A perseguição aos atiradores do Charlie Hebdo teve fim após 53 horas de intensas buscas e a mobilização de mais de 80 mil policiais. Unidades de elite os cercaram desde a manhã de ontem em Dammartin-en-Goële, cidade de 8.000 habitantes.
Hezbollah diz que grupo é mais nocivo
Beirute. O chefe do Hezbollah xiita libanês estimou ontem que os jihadistas que realizam atentados no mundo são mais nocivos para o Islã que as obras que fazem piada com Maomé, sem se referir, no entanto, ao ataque contra o jornal Charlie Hebdo.
"Neste momento, é mais do que nunca necessário falar do profeta devido à conduta de alguns grupos terroristas que reivindicam defender o Islã", afirmou Hassan Nasrallah, cujo partido xiita combate os movimentos jihadistas sunitas na Síria com o regime de Bashar al Assad. O chefe do Hezbollah acrescentou ainda, em discurso, que "através de seus atos imundos, violentos e desumanos, estes grupos atentaram contra o profeta e os muçulmanos mais do que fizeram seus inimigos".
Nasrallah se referiu à França ao afirmar que após as atrocidades cometidas pelos jihadistas em Síria, Iraque, Líbano, Paquistão, Afeganistão e Iêmen, "o flagelo alcançou agora os Estados que exportaram (estes extremistas) para nossos países".
Muitos membros de grupos jihadistas na Síria e no Iraque são ocidentais, entre eles franceses, americanos e britânicos.
Apoiado por Teerã, o Hezbollah xiita está em guerra contra os rebeldes e jihadistas na Síria, alegando que defende o Líbano contra extremismo.
Muçulmanos
Os líderes da comunidade muçulmana francesa pediram aos fiéis que se desvinculem dos jihadistas, acusados de provocar o massacre em nome do Islã.
Os representantes da comunidade - que conta na França com entre 3,5 e 5 milhões de membros - convocaram os imãs das 2.300 mesquitas do país a "condenar com a maior firmeza a violência e o terrorismo" em suas orações ontem.
Líderes temem que o ataque provoque um ressurgimento das ações contra muçulmanos.
Fique por dentro
Conheça o AQPA, braço mais ativo de facção
A Al Qaeda na Península Arábica (AQPA), com sede no Iêmen, é, segundo os Estados Unidos, o braço mais ativo e perigoso da facção.
Nascido em janeiro de 2009 da fusão das facções saudita e iemenita da Al Qaeda, o grupo figura na lista de organizações terroristas de Washington, que prometeu US$ 10 milhões por qualquer informação que conduza à localização de seu líder, o iemenita Naser al-Whaychi, e de outras sete autoridades do grupo.
Whaychi proclamou em julho de 2011 sua adesão a Ayman al-Zawahiri, novo chefe da Al Qaeda após a morte de Osama Bin Laden.
A AQPA reivindicou nos últimos anos atentados importantes, tanto no Iêmen quanto no exterior, incluindo uma tentativa de explodir um avião norte-americano no dia de Natal de 2009.
Além disso, o grupo convocou em várias ocasiões seus partidários a atacar a França, integrante da coalizão internacional que combate o Estado Islâmico no Iraque e envolvida na África contra os jihadistas.
Em território iemenita, o grupo extremista realiza regularmente mortíferos ataques contra as forças de ordem e, mais recentemente, contra os rebeldes huzis que se apoderaram em setembro da capital, Sanaa.
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