18/01/2015
Após os ataques na França por terroristas ligados à Al-Qaeda e ao estado islâmico, diversas manifestações na Europa atacam as comunidades de imigrantes, sobretudo os que professam o islamismo
ROBERT MICHAEL/AFP
Manifestação em Dresden protesta contra Angela Merkel mostrando-a como uma muçulmana. Movimento lidera onda contrária à presença de imigrantes no continente europeu
Os atentados a Paris, na semana passada, tiveram o efeito de óleo sobre o fogo em um país vizinho, a Alemanha. Em marcha contra o que eles chamam de “islamização da Europa”, milhares de alemães têm saído às ruas com o slogan: “Nós somos o povo”. Nos cartazes dos manifestantes, provocações. Por exemplo, a fotomontagem de Angela Merkel, chanceler alemã, de cabeça coberta pelo véu usado por grande parte das mulheres muçulmanas.
O movimento que se auto-intitula Pegida (a sigla significa “Europeus Patriotas contra a Islamização”), surgido há alguns meses e que tem inquietado muito o governo, ganhou força extra com a emoção após o que houve em Paris. De Dresden, onde começou, o Pegida chegou a outras cidades alemãs, embora com menos força, e agora chega à Espanha.
“Nazistas de paletó chique”, atacam os colaboradores de Merkel. Na tradicional mensagem de Ano Novo à nação, a chanceler bateu forte no grupo, dizendo que “eles são plenos de ódio”.
No Financial Times de sexta-feira, o fundador do Pegida, Lutz Bachmann, rebate e diz que eles são gente comum, sem ligação com os partidos políticos e que não se considera de direita.
Angela Merkel, no entanto, não acredita na “inocência” desse grupo e não perde uma oportunidade de, em público, passar a mensagem de que a Alemanha precisa de imigrantes.
A ministra refere-se ao envelhecimento da sociedade alemã, o índice mais baixo de nascimento na Europa. O país, portanto, precisa desses jovens que chegam de outras partes do mundo, novas gerações para impulsionar o país, agora também sofrendo pela lentidão econômica na Europa.
Merkel não está sozinha. Com ela, a contra-ofensiva ao Pegida vai também às ruas em marcha para dizer que a comunidade muçulmana é parte da Alemanha e que isso é bom para o país. As hostilidades pontuais, no entanto, se multiplicam. Em toda a Alemanha, atos isolados, mas igualmente odiosos, mostram que as opiniões são divididas. Em algumas cidades, mesquitas são alvo de ataques e injúrias.
Igual para as sinagogas, pois não podemos esquecer o crescimento de grupos neonazistas no país. A França também tem esse tipo de violência. Mesquitas e sinagogas são alvos principais, por isso o governo francês decidiu espalhar policiais às portas desses lugares de culto religiosos. Mas, no meio da onda de incidentes, os jornais franceses mostram um caso na contracorrente.
Uma mesquita, dias atrás, amanheceu coberta de lindos corações de papel em rosa e vermelho. O imã agradeceu esse gesto curioso e anônimo, mas cheio de significação e solidariedade.
Importante dizer que, em meio às emoções que suscitaram os ataques terroristas, os franceses, de um modo geral, apoiam a comunidade muçulmana, mas isso parece não ser suficiente.
Nas ruas, no dia a dia, pequenos insultos e atos de incivilidade - islamofobia e antissemitismo - têm aumentado. Milhares de judeus franceses têm ido embora da França por isso. Medo de serem vítimas dessa violência que se multiplica, migram para Israel, onde se sentem à vontade para viver a religião em segurança. Já os muçulmanos franceses estão contra a parede.
Para uma parte dos franceses, é mais que hora de os muçulmanos do país fazerem uma reflexão e de publicamente se distanciarem desse islã radical.
A comunidade muçulmana, por sua vez, diz que não é preciso dizer algo que parece óbvio e que eles são as primeiras vítimas desses extremistas. Mas o sentimento geral é de que algo quebrou-se. Uma espécie de gênio louco saiu da garrafa e não quer mais reentrar.
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