18.01.2015
Segundo delegado, há 'fortes indícios' de práticas irregulares envolvendo dinheiro de patrocínios
A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), através da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), instaurou inquérito para investigar denúncias de supostas irregularidades na gestão da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS). A Polícia Federal (PF) também foi acionada para acompanhar o caso.
A suspeita é que parte do dinheiro oriundo do patrocínio da entidade - R$ 20 milhões dos Correios e R$ 11,7 milhões do Banco do Brasil - esteja sendo desviada. No último dia 7, um representante de federação estadual ligada à entidade máxima do futebol de salão foi ouvido pelo delegado titular da DDF, Jaime Paula Pessoa Linhares.
Segundo o delegado, os indícios são "fortíssimos" de que crimes como lavagem de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica estejam sendo praticados. A CBFS nega as acusações.
Escândalo
As denúncias foram levadas à DDF por um grupo contrário à atual gestão da entidade, que tem como presidente Renan Tavares. Ele substituiu Aécio de Borba Vasconcelos, que por 35 anos esteve à frente da CBFS.
Borba havia se licenciado do cargo no mês de maio do ano passado, após ter suas contas, referentes ao ano de 2013, reprovadas. Em junho, apresentou carta de renúncia.
Na ocasião, além de Borba, deixaram cargos na CBFS o vice-presidente geral, Vicente Piazza, e as três filhas do ex-presidente: Sílvia de Borba, ex-diretora de Marketing; Virgínia de Borba, ex-diretora do departamento financeiro e Sônia de Borba, ex-diretora do Centro de Treinamento. Tavares, que era vice-presidente de competições, assumiu a presidência. Louise Bedê, que era vice-presidente administrativa, herdou o cargo de vice-presidente geral da entidade.
Em 30 de novembro, uma assembleia geral extraordinária reuniu representantes de federações estaduais, que votaram pela destituição da presidência. Uma junta governativa foi eleita, porém, jamais assumiu o poder na CBFS. Na ata da assembleia, é citado como motivo para a tomada de poder, dentre outros, o fato de Tavares ter levado a pauta para aprovação das contas de Borba que haviam sido desaprovadas e dado início a todas as polêmicas.
De acordo com a denúncia encaminhada à Polícia, os recursos oriundos dos patrocínios do Banco do Brasil e dos Correios estariam sendo desviados. Uma empresa contratada pela CBFS para realizar eventos para a entidade, a Arfe Produção e Logística de Eventos LTDA, teria emitido cheques nominais a Renan Tavares, Louise Bedê e outras pessoas ligadas à Confederação. Além disso, a empresa teria ainda realizado contrato mútuo com a entidade, em que emprestava dinheiro à sua contratante, com valor acima de seu capital social. Partindo disto, de acordo com o delegado titular da Delegacia de Defraudações, foi aberto o inquérito policial.
"Essa representação foi dada entrada por parte da junta governativa eleita, fazendo denúncia de situações gravíssimas de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e, em tese, estelionato. Já instauramos um inquérito e vamos, doravante, começar as investigações", disse o delegado.
Linhares fez questão de mencionar que, apesar das informações apresentadas pela denúncia, ainda é cedo para se apontar alguma culpabilidade, bem como ligar pessoas a crimes. "No momento seria precipitado fazer qualquer juízo de valor acerca das denúncias, mas adianto que estão bem fundamentadas e são vastos os documentos comprobatórios", afirmou o delegado.
De posse do endereço da Arfe, a reportagem foi até o local indicado, um prédio comercial no Centro de Maranguape, Região Metropolitana. Na sala indicada, havia apenas a placa de uma empresa de empréstimos que, segundo vizinhos, "há alguns meses não funcionava".
A reportagem teve acesso a alguns dos documentos entregues à Polícia. Os cheques nos valores de R$ 10 mil emitidos pela empresa terceirizada levam os nomes de Renan Tavares, Louise Bedê, e da esposa de Tavares, Edineide Menezes, como parcelas de "gratificação pecuniária prevista no estatuto da CBFS".
Os advogados que representam a junta governativa, Leandro Vasques e Eugênio Vasques, explicaram que tal pagamento não compete à empresa contratada pela Confederação.
Presidente da entidade nega todas as acusações
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Salão negou, através de nota, todas as acusações feitas contra ele e a vice-presidente, Louise Bedê, de estarem recebendo dinheiro de maneira supostamente indevida. De acordo com o dirigente, o contrato com a empresa citada na denúncia foi rescindido assim que eles assumiram a gestão.
Segundo informou a nota, a empresa "foi contratada para o gerenciamento dos pagamentos devidos pela CBFS, inclusive a fornecedores, contratantes e eventuais gratificações pecuniárias relacionadas a prestações de serviços ou exercício de cargos diretivos, na própria CBFS ou na Liga Nacional".
Tavares afirma, ainda, que os cheques se referiram a pagamentos de gratificação do comitê realizados com verbas oriundas de receitas da própria competição.
"Os recibos assinados pelos integrantes da atual gestão da CBFS, portanto, relacionavam-se a atividades licitamente desenvolvidas, não havendo que se cogitar de qualquer tipo de enriquecimento ilícito ou desvio de dinheiro", rebateu.
Sobre o cheque emitido em favor de Edineide Menezes, esposa de Renan Tavares, o presidente explicou que indicou o nome da mulher apenas para ser realizado o depósito, enfatizando que, ele próprio, é o subscritor do recibo de pagamento.
Acerca dos empréstimos, o dirigente alega que contratou auditoria externa para analisar as contas da Confederação, que não constatou a existência de qualquer empréstimo. "A CBFS não reconhece a existência de qualquer débito da entidade em relação à aludida empresa", diz o texto enviado.
No documento, o presidente da entidade máxima do futebol de salão fez questão de destacar os avanços que, segundo ele, foram conquistados em sua gestão. "Convém destacar que a atual administração da CBFS não apenas providenciou a realização de auditoria externa das contas da entidade, mas também promoveu diversas mudanças gerenciais que visam a reerguer a modalidade", ponderou.
Mais informações:
Delegacia de Defraudações e Falsificações - DDF
Rua Conselheiro Tristão, 188 - José Bonifácio - Fortaleza - Ceará
(85) 3101-4912
Delegacia de Defraudações e Falsificações - DDF
Rua Conselheiro Tristão, 188 - José Bonifácio - Fortaleza - Ceará
(85) 3101-4912
Levi de Freitas
Repórter
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