sábado, 28 de junho de 2014

Vilas olímpicas sofrem com falta de estrutura

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
28.06.2014
Longe dos legados da Copa, espaços dedicados ao esporte estão deteriorados e esvaziados

vila olímpica
Na Vila Olímpica de Messejana, a piscina está interditada por problemas técnicos e a quadra e o campo de futebol precisam de manutenção. O espaço conta com três projetos fixos: Segundo Tempo, Feliz Idade e aulas de capoeira
FOTOS: FABIANE DE PAULA
Centro de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH)
O Centro de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) do bairro José Walter, mesmo com edificações danificadas, recebe atividades do Programa Segundo Tempo
Mês de férias e de Copa do Mundo. Nos espaços criados para atividades esportivas e lazer, em Fortaleza, o silêncio toma conta em boa parte do dia. Operando com escassas atividades e pequenos públicos, esses equipamentos - a exemplo das Vilas Olímpicas ou dos Centros de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) - estão longe de testemunharem os legados do Mundial. A maioria opera com estruturas deterioradas ou desativadas. Entre as atividades recreativas, trabalhos voluntários, programas federais e poucas iniciativas ministradas pelos próprios espaços.
Entre os benefícios propostos pela Copa do Mundo em Fortaleza, apenas uma obra contempla a esfera do atendimento à comunidade, no que diz respeito a incentivos e desenvolvimento do esporte: o Centro de Formação Olímpica. O prédio é erguido em frente ao palco do Mundial, cuja entrega foi estimada para o fim do ano. Conforme o Portal Brasil, site do governo federal, o complexo recebeu investimento de R$ 226,8 milhões e terá 26 modalidades esportivas.
Enquanto a bola rola nos estádios, as vilas olímpicas, equipamentos de responsabilidade da Secretaria de Esporte e Lazer do Município de Fortaleza, encontram-se esvaziadas. Em Messejana, a calmaria é interrompida por atividades pontuais. Conforme a coordenadora das vilas olímpicas, Alyne Morais, o espaço conta com três projetos fixos: "Segundo Tempo", programa do Ministério do Esporte que trabalha com modalidades coletivas (futsal, vôlei, basquete), por três vezes na semana; Projeto Feliz Idade, que oferece ginástica para um grupo da terceira idade, duas vezes na semana; além de aulas voluntárias de capoeira, duas vezes por semana, oferecidas pelos grupos locais. As outras três vilas de Fortaleza e uma em São Gonçalo do Amarante funcionam com as mesmas atividades, com exceção do Projeto Fez Idade.
Naquele perímetro, a estrutura é antiga e nunca passou por grandes reformas. A piscina está interditada por problemas técnicos, a quadra necessita de manutenção, assim como o campo de futebol. Segundo assessoria de imprensa, os custos de manutenção para todas as vilas são de aproximadamente R$ 3 milhões. Ao chegar ao local, a reportagem observou a saída de um grupo de cerca de dez crianças, junto de dois professores do Projeto Segundo Tempo. O espaço conta com apenas um funcionário próprio, o segurança. No interior, uma equipe de limpeza aparava a grama alta do campo de futebol. Conforme Alyne, o serviço é feito a cada 15 dias.
Para o presidente da Associação de Pais de Alunos de Escolas Públicas, Eliu Bento de Souza, a linha de atuação está esquecida pelo poder público. Segundo ele, a entidade organiza voluntariamente atividades nos próprios bairros, visando preencher essa lacuna, mas não é suficiente para impedir que jovens e adolescentes se evadam para as ruas. "Esses equipamentos deveriam estar no 'padrão Fifa'. Por que não aproveitar aquilo que já temos e entregar em boas condições à população?", questiona.
Mudanças
A coordenadora das vilas olímpicas prevê uma transformação deste cenário, que deve ocorrer ainda neste ano, até o fim do mandato do governo do Estado. Já foi licitado, segundo ela, projeto de reforma básica para todas as vilas. As intervenções fundamentais deverão contemplar as piscinas (da Vila de Messejana e do Conjunto Ceará), as cobertas das quadras, além de serviços de pintura, marcenaria e reparos na estrutura elétrica. O custo foi estimado em R$ 2 milhões.
"As vilas olímpicas não passaram por nenhuma reforma, desde a inauguração. Passaram por reparos, pequenos ajustes. Mas reforma com impacto maior não houve. Um equipamento desse porte poderá, seguramente, atender mais pessoas", diz.
Até o fim do ano, também estará em plena operação o Programa de Esporte e Lazer da Cidade (Pelc), iniciativa do Ministério do Esporte, que envolverá mais sete profissionais em cada Vila. Ele contempla oficinas de futsal, futebol de campo, voleibol, atletismo, caminhada, ginástica, entre outras atividades, durante os três turnos, em praças públicas, calçadões, equipamentos esportivos e associações.
O custo total para a implantação do Pelc Fortaleza é de R$ 1.934.009,60. Além desse reforço, as vilas olímpicas devem contratar cerca dez profissionais fixos para cada sede. Na Vila da Messejana, o público, que, hoje, atinge cerca de 300 pessoas (apesar de ter capacidade para 500), será ampliado em mais 400 alunos, a partir desses resultados.
ENQUETE
De que você acha que o espaço precisa?
"Aqui precisa de reforma. Mas é preciso ter segurança também, porque as pessoas invadem e picham. Podia ter aula de futebol e basquete também"
Jetro Nilton
Estudante
"Ando de skate e olho a galera jogar bola. Queria que tivesse basquete e que a natação voltasse. Fazia natação, mas quebraram tudo. Nem luz tem, faltam pedaços do telhado"
Elias Pimenta
Estudante
CCDHs também em situação de sucateamento
Nos Centros de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) - que, no passado, carregavam a nomenclatura de Centro Social Urbano (CSU) -, as condições de sucateamento são semelhantes. Sob responsabilidade da Prefeitura de Fortaleza encontram-se seis equipamentos, distribuídos pelos bairros Conjunto Ceará, Pici, José Walter, Conjunto Palmeiras, Cristo Redentor e Bela Vista, que deveriam ofertar atividades esportivas, assim como cursos de formação profissionalizante.
Entretanto, o que acontece é que a maioria dos centros estão com as edificações deterioradas, aguardando por reformas. No CCDH do bairro José Walter, por exemplo, algumas atividades estão comprometidas. O campo de futebol está danificado, mas, mesmo assim, recebe aulas pelo Programa Segundo Tempo. Aulas de capoeira e kung fu são ministradas voluntariamente nas salas e outras atividades. O equipamento tem capacidade para atender até 400 pessoas.
Porém, as quadras, piscinas, auditório e outros espaços do CCDH José Walter estão interditados, o que obriga a gestão a suspender a oferta de determinadas modalidades. A interdição, por sua vez, acaba por oferecer riscos à população, pois, segundo os moradores, o espaço costuma ser invadido à noite para consumo de drogas. Além disso, as piscinas podem se tornar focos para proliferação de doenças como a dengue. Acessando a quadra poliesportiva, a reportagem surpreendeu um grupo de jovens que havia pulado o muro para jogar futsal, já que estão todos de férias e não encontraram outra opção de lazer.
Reforma
Segundo o coordenador de mobilização social Antônio Félix, responsável pelo equipamento, o lugar deve receber melhorias. Na parede de sua sala, maquetes eletrônicas estampavam o projeto arquitetônico previsto para a área, cujas obras devem ser iniciadas em novembro. "Os Cucas estão superlotados por conta dessa situação. Mas quando o projeto for executado, aqui deverá acontecer mais atividades do que lá", acrescenta.
Moradora do bairro há cinco anos, a doméstica Maria Aldenira Batista passava pelo local, onde procurou atendimento no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) que existe no espaço. Fora o posto de saúde que funcionava no CCDH até a semana passada, esse atendimento é a principal atividade desenvolvida pela gestão, atualmente. "Aqui tinha natação, futebol, mas está desativado. Lembro quando minha filha era pequena, que andávamos aqui e tinha atividade até para idosos. Agora, está em reforma. Queria mesmo que ajeitassem para ficar melhor para a comunidade".
Bárbara Almeida
Especial para cidade

Um comentário:

  1. Na situação em que a juventude está, esses espaços de lazer, esporte e convivência são uma excelente opção, não dando margem ao crime e às drogas.

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