23/11/2014
O acesso às redes sociais é hábito diário de muitas pessoas, mas a relação conflituosa com os perfis, as curtidas e os comentários pode indicar um uso problemático. O cyberbullying também precisa de atenção
Apesar de o acesso à Internet ainda não ser universal, alguém não fazer parte de uma rede social é sinal de espanto para muitas pessoas, seja por falta de acesso ou falta de vontade. Com a relação cada vez mais contínua das pessoas com as redes sociais, o uso problemático desses programas também se faz presente em consultórios de psiquiatras e psicólogos, pesquisas e preocupações de profissionais da saúde.
Segundo Aline Restano, psicóloga e membro do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (Geat), é importante entender os mecanismos de atração de cada rede social. “Tem que dar prazer. E o que costuma dar prazer é quantidade do número de curtidas, de comentários positivos, solicitações de amizade”. Ela explica que a maioria dos artigos usa o termo “uso problemático das redes sociais”, pois não existe diagnóstico claro de dependência, apesar de haver semelhanças com a dependência química, por exemplo.
A psicóloga citou casos de atendimento de adolescentes que passaram a ter prejuízos na vida escolar, social e familiar em decorrência do uso problemático das redes. Ela aponta que alguns fatores de risco são comportamentos anteriores de solidão, depressão, ansiedade, assim como pessoas que usam as redes sociais para observar muito mais a vida dos outros ou para postar muito mais sobre si mesmo do que quem usa para se comunicar.
“Outro fator de risco interessante é quem precisa visualizar várias vezes por dia, precisa passar o dia inteiro olhando de novo, olhando de novo para ver se surgiu uma novidade, se aconteceu alguma coisa”, ressalta. Um ponto relembrado pela psicóloga é o risco do uso quando envolve pessoas que compensam por meio da vida online habilidades sociais que não tem na vida real. “O humor muda realmente. A pessoa fica mais eufórica, assim como quando não é procurado, também gera um vazio”.
Cyberbullying
Entre os usos potenciais e os perigos das redes sociais, o cyberbullying se destaca pelo poder devastador que pode ter para muitas pessoas. E, mais uma vez, o grupo de crianças e adolescentes é o mais vulnerável. O psiquiatra especialista em infância e adolescência Gabriel Bronstein, da Santa Casa do Rio de Janeiro, relembra que o bullying sempre existiu, mas tinha uma plateia pequena. “Agora, você tem o mundo inteiro massacrando aquela pessoa. É uma dimensão absurdamente diferente”, reitera.
Citando redes sociais muito usadas pelo grupo dos adolescentes, como o Ask.Fm e outra que causou muitas polêmicas como o Secret (ver saiba mais), a psicóloga Aline Restano opinou que, quando se adiciona o fator anonimato à rede social, a exposição, riscos e casos de cyberbullying aumentam. Ao longo dos anos, casos de adolescentes que passaram por cyberbullying nas redes por meio de xingamentos, postagem de vídeos e fotos causaram até o suicídio de adolescentes em outros cantos do mundo. Sinal de alerta para o mundo virtual. Aline ressalta que o anonimato e o cyberbullying podem gerar desorganizações e paranoias em algumas pessoas.
Apesar disso, a possibilidade de comunicação gerada pelas redes sociais é inegável. É importante saber se o uso gera um potencial criativo ou se gera um funcionamento alienante, de “desligar da realidade”, ressalta Aline Restano. “Quando a gente fala de algo criativo não é que a criança ou adolescente tem que estar criando algo maravilhoso, mas que possa estar vivendo de forma que a experiência a aproxime de pessoas, que sinta que vale a pena, que não é algo vazio”. (Samaisa dos Anjos)
SAIBA MAIS
Como funcionam algumas redes sociais
ask.fm: Rede social que funciona como um espaço de perguntas e respostas. Os usuários podem fazer perguntas a outros usuários, conhecidos ou não, usando sua identidade ou de forma anônima. Também existe opção para que a resposta seja em forma de vídeo. O funcionamento é semelhante ao Formspring.
Snapchat: O aplicativo funciona como uma troca de imagens e vídeos entre usuários. A diferença é que o tempo em que as mensagens ficam disponíveis para visualização é de, no máximo, 10 segundos. O usuário pode enviar o snap para vários contatos ao mesmo tempo.
Secret: O aplicativo permite que os usuários compartilhem informações/segredos de forma anônima com outros usuários oriundos de suas outras redes sociais, como o Facebook. Com o anonimato sendo a base do aplicativo, questões como cyberbullying, compartilhamento de fotos e informações íntimas de outras pessoas e abusos outros foram logo se tornando comuns no uso da rede.
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