sábado, 22 de novembro de 2014

10 mulheres vítimas de violência por dia no CE

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
22.11.2014
Em todo o Estado, 3.084 mulheres foram vítimas de violência doméstica até outubro deste ano. Em 2013, foram 3.910

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Entre os fatores que impedem a mulher de denunciar estão a dependência econômica, ligação afetiva, medo e dificuldade de acesso
FOTO: BRUNO GOMES
"Inconformado com separação, empresário mata a ex-mulher com tiro na cabeça e se suicida". A notícia do bárbaro crime praticado na noite da última quinta-feira (20) se tornou manchete do portal de notícias do Diário do Nordeste. O empresário Nivando Clementino Macêdo, 38, entrou na casa da ex-sogra e matou com um tiro na cabeça a ex-esposa, Ana Kátia Coutinho Macêdo, 27. Eles deixam uma filha de 7 anos.
A ocorrência desse tipo de crime é mais comum do que se imagina. Conforme estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgados ontem pela revista The Lancet, uma em cada três mulheres no mundo sofre violência conjugal. No Ceará, 3.084 mulheres foram vítimas de violência doméstica, até outubro deste ano, uma média de dez agressões por dia no Estado.
Em relação ao igual período de 2013, houve redução de 4% das denúncias (3.212). No ano passado, o número de mulheres vítimas de violência no Ceará foi 3.910. É o que apontam dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Rena Gomes Moura, titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza, comenta que a quantidade de crimes é estarrecedora. Contudo, ressalta que esse número pode ser ainda maior, já que muitas mulheres ainda têm medo de denunciar.
"A gente trabalha para que essas violências sejam números reais e o poder público possa fazer intervenções". Em 2006, com a criação da Lei Maria da Penha, passou a haver uma mudança no perfil das denúncias registradas. Antes, as de lesão corporal eram as mais comuns. Com a criação da nova legislação, as mulheres passaram a denunciar antes mesmo da violência mais grave ocorrer. Predominaram, então, as denúncias de violência psicológica e moral.
Denúncia
Dependência econômica, ligação afetiva, medo e dificuldade de acesso aos órgãos que possam ajudá-la a sair dessa situação são fatores que interferem na hora da denúncia ser formalizada. "Como depende financeiramente do marido, muitas vezes, a mulher fica sem ter como refazer a vida. Outros casos envolvem a questão afetiva, pois ela vai denunciar o pai dos filhos, o homem que escolheu para constituir família", explica.
A antropóloga Jânia Perla Aquino, professora do Departamento de Ciência Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), esclarece que não dá para dissociar essas violências da questão cultural. "Está muito enraizado no imaginário popular a ideia de que a masculinidade se define pela força, pela agressividade, enquanto a mulher tende mais para a fragilidade, associada à fraqueza. Isso resulta em certa complacência por parte da sociedade e de uma resiliência feminina", comenta.
A especialista avalia que, na esfera dos direitos, a punição avançou consideravelmente. Mas, na esfera dos valores, muito ainda tem de ser feito. A mudança é lenta e envolve campanhas educativas.
No Ceará há nove delegacias de defesa da mulher, em Fortaleza, Caucaia, Maracanaú, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte, Sobral, Quixadá e Pacatuba.
Mais informações
A Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza está localizada na Rua Manuelito Soares Moreno, 12, bairro Benfica. Para denunciar, basta ligar para o telefone (85) 3101.2495 ou (85) 3101.2486
Luana Lima
Repórter

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