13.10.2013
Diversas comunidades da Capital sofrem com os confrontos entre grupos armados. A reportagem mapeou
Rivalidade gratuita, disputa de território do tráfico de drogas, vingança e rixa. Estes são os ingredientes de uma perigosa e sangrenta ´guerra´ que acontece em bairros e favelas de Fortaleza, envolvendo gangues armadas. O resultado de tudo isso são constantes tiroteios, mortes de lado a lado entre os grupos criminosos e também de pessoas inocentes atingidas por balas ´perdidas´ nas ruas e até dentro de suas próprias residências.
Confrontos entre gangues têm produzido um rastro de mortes violentas em várias zonas periféricas de Fortaleza, como o Conjunto São Miguel, em Messejana; e os bairros Vila Velha, Antônio Bezerra, Sapiranga e Pirambu FOTO: NATINHO RODRIGUES
A Reportagem fez um mapeamento de, pelo menos, nove comunidades da Capital cearense onde as gangues armadas impõem um regime de medo e violência aos seus moradores.
Mapa
Os assassinatos acontecem sempre que um grupo resolve invadir o ´território´ do oponente para eliminar inimigos ou, simplesmente, para mostrar a força de suas armas de fogo.
No mapa publicado ao lado, estão pontuados alguns dos bairros de Fortaleza que vêm sofrendo com a atuação dessas quadrilhas. E neles, o número de homicídios e lesões corporais são sempre altos, em decorrência dessa ´guerra silenciosa´.
São Miguel
Um dos bairros mais afetados com a disputa entre gangues é o Alagadiço Novo, na Grande Messejana, onde está localizada a comunidade do São Miguel. A briga entre as gangues da Mangueira e do Coqueirinho já deixou, pelo menos, 48 pessoas mortas neste ano.
Outro bairro que vem sendo atingido mortalmente pelos constantes entreveros de gangues é o Pirambu. A Praça do Abel, localizada próxima da Rua Santa Elisa e a Avenida Doutor Theberge virou uma espécie de ´ringue´. Sempre que as duas gangues dali resolver trocar balas o local é o escolhido para os confrontos. Somente nas última semanas, quatro pessoas foram mortas ali. A Polícia Militar não tem dado trégua no local, onde já foram realizadas várias prisões de gangueiros tidos como os ´cabeças´ dos grupos. Armas de grosso calibre, como espingardas de calibre 12, além de pistolas, são apreendidas sistematicamente no lugar.
Na Vila Velha, na zona Oeste da Capital, a intriga entre duas gangues denominadas de ´V-8´ e ´Gafanhotos´ já produziu vários momentos de terror entre os moradores, além da morte de muitos jovens. E a violência tem provocado uma espécie de retirada forçada de quem residia ali. "São muitas casas que agora estão vazias. As famílias foram embora e ninguém aparece para comprar ou alugar os imóveis´, conta um idoso que ainda está ali, segundo ele, "por não ter para onde ir".
Mangue
Os tiroteios entre as gangues se estendem pelas ruas e quando a Polícia aparece, os criminosos fogem e vão se refugiar no mangue do Vila Velha onde, segundo informações colhidas pela própria PM, os atiradores montam até acampamentos para ali se esconder dos inimigos e também da Polícia.
"Quem for daqui não pode ir até lá, e quem é de lá não pode vir aqui, pois se vier, morre", contou à Reportagem a dona de casa M. (identidade preservada) que mora na Favela dos Cocos, na Praia do Futuro, onde também duas gangues mantêm uma rivalidade. A ´zona de perigo´ impede a livre circulação dos moradores entre alimentam e as delimitadas pelos gangueiros.
Situação semelhante aconteceu no bairro Antônio Bezerra, na zona Oeste, onde duas favelas nasceram juntas, mas e tornaram inimigas, a dos Plásticos e a do Sossego. Vários tiroteios entre os bandos armados de lá já resultaram em mortes de jovens, adolescentes e até crianças. Além dos confrontos, quando bandidos são mortos, a gangue rival ameaça invadir o velório para queimar o cadáver do rival, exigindo que a Polícia Militar faça a segurança no local e até mesmo acompanhe o funeral até o cemitério.
Na última quinta-feira, novos conflitos de gangues foram registrados no Conjunto palmeiras, entre as gangues das ruas Maguary e Saquarema. Mas, desta vez, ninguém ficou ferido. As ocorrências de disparos de armas de fogo em via pública viraram uma rotina para os moradores e policiais militares responsáveis pela segurança da área.
Vários integrantes dos grupos já foram presos pela PM e encaminhados ao presídio por estarem armados, mas, logo eles ganham a liberdade e retornam ao bairro de origem e se vingam dos oponentes, gerando mais crimes de homicídio e lesão corporal.
Mudanças
Com a troca de comando na Pasta da Segurança Pública, o órgão promete implantar um trabalho integrado entre as polícias Civil e Militar em cada uma das áreas consideradas críticas de Fortaleza em relação aos crimes de assassinato. O secretário da Segurança, Servilho de Paiva, garantiu que "resultados serão cobrados" e determinou um trabalho integrado entre a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e a Delegacia de Narcóticos (Denarc).
FERNANDO RIBEIROEDITOR DE POLÍCIA
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