domingo, 12 de outubro de 2014

LESÕES CEREBRAIS Sofri uma pancada na cabeça: o que fazer?

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
12.10.2014
Em casos de trauma, é essencial buscar acompanhamento com neurologista e neuropsicólogo

ARTE
O episódio da jovem que levou uma cotovelada na cabeça provocada por um rapaz na saída de uma balada em São Paulo, divulgado na mídia em agosto último, chocou o País. A agressão e a gravidade do caso pareciam inversamente proporcionais. Mas esta é apenas uma manchete de como o Traumatismo Crânio-Encefálico pode chegar de repente e causar um grande dano na vida das pessoas. Além de agressões e quedas, os acidentes de trânsito e ferimentos por arma de fogo são as principais causas dos traumas.
Conforme a neuropsicóloga e Mestre em psicologia clínica, Liane Bastos, o TCE é um processo patológico que resulta de qualquer agressão que lesione ou comprometa o funcionamento cerebral, respondendo pela morte entre adultos jovens até 45 anos, sobretudo homens.
Milhões têm sido gastos no mundo em tentativas de prevenção e tratamento, sendo por isto considerado um problema de saúde pública, pois ocasiona incapacidades físicas, cognitivas e comportamentais.
Terapêutica adequada
Em caso de bater a cabeça fortemente, mesmo sem perder a consciência, a orientação é procurar uma assistência médica para realização de exames neurológicos e de imagem (tomografia computadorizada e ressonância magnética). Estes exames permitirão visualizar e diagnosticar traumas e lesões cerebrais a fim de nortear a terapêutica mais adequada.
Contudo, em muitos casos, não são visualizadas alterações nos exames, o que leva a pensar que não houve trauma cerebral, não valorizando os sintomas clínicos do paciente. "Devemos ser cuidadosos nesta consideração, pois a ausência de incapacidades físicas e alterações cerebrais aparentes em exames de imagem não exclui a possibilidade da presença do trauma", explica Dra. Liane Bastos.
Os traumatismos crânio-encefálicos leves têm outro agravante, as alterações não são facilmente visíveis em exames de imagem, pois acontecem em níveis neuronais e químicos, modificando a interação e funcionamento cerebral, ocasionando Lesões Axionais Difusas (LAD).
A dinâmica do cérebro é complexa, e na LAD há rupturas generalizadas dos axônios a níveis corticais e subcorticais, o que produz déficits clínicos muito significativos. Esta foi uma das considerações do Dr. Almir Ferreira de Andrade, chefe do setor de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas, durante palestra recente. Ele explicou que o doente sofre de cefaleia, queixas de memória, de atenção, de agitação psicomotora, de linguagem, de alteração de humor, de comportamento e até de personalidade.
Impactos na vida
Pesquisas mostram, segundo Dra. Liane, que após o trauma a vítima de TCE pode ficar mais egocêntrica, impulsiva, agressiva, dependente, deprimida, ansiosa, esquecida, irritada, com temperamento mais explosivo, com inadequações sociais e apresentar oscilações de humor.
"Os casos de traumatismos leves cursam com sintomas clínicos, neuropsicológicos e neuropsiquiátricos que devem ser acompanhados por médicos e neuropsicólogos para diagnóstico, tratamento e reabilitação", recomenda. A avaliação neuropsicológica formal irá traçar o perfil neuropsicológico e neuropsiquiátrico da vítima, permitindo mostrar as alterações devido ao trauma. Objetivo: conhecer os impactos das alterações na vida do paciente - da sua inserção social até a funcional.
Atenção aos sinais
Por meio desse acompanhamento é possível delinear ainda as capacidades e habilidades preservadas que serão os alicerces onde se apoiarão os programas de reabilitação. São utilizados instrumentos padronizados como escalas e testes neuropsicológicos para a avaliação das diversas funções: atenção, percepção, linguagem, memória, funções executivas, raciocínio, abstração, aprendizagem, funções motoras e humor.
Além disto, a avaliação neuropsicológica contribui para que o profissional de saúde realize orientações e recomendações aos familiares e cuidadores da vítima de TCE, afim de auxiliá-la no seu tratamento e reabilitação, uma vez que os efeitos negativos impactam todo o entorno da vítima. Conforme pesquisa, cuidadores revelaram que seus familiares, vítimas de TCE, estavam mais esquecidos em diferentes situações: para tomar medicação, para alimentar-se, para tomar banho, para comparecer à consulta médica, dentre outras.
É na avaliação neuropsicológica com acompanhamento em longo prazo que será possível conhecer se as incapacidades decorrentes do trauma são temporárias ou permanentes, realizando assim uma intervenção neuropsicológica contínua, adequada para a demanda de cada fase do trauma.
FIQUE POR DENTRO
Saiba mais sobre o processo de cura e superação
O blog http://meucerebromudou.wordpress.com/ foi criado por Fernanda, vítima de TCE, e contém o seu depoimento acerca de todo o seu processo de adoecimento, perdas, até seu processo de avaliação e reabilitação neuropsicológica.
Nele também verificamos depoimentos de outras vítimas, que ao compartilharem suas experiências na rede, encontraram apoio emocional e suporte uns nos outros. Além disto, auxiliam na psicoeducação acerca deste importante assunto.
Cristina Pioner
Especial para o Vida

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