11/10/2014
Poços profundos e carros-pipa tentam amenizar a seca na sede e nos distritos de Canindé. Em bairros periféricos da zona urbana, a população não consegue beber ou cozinhar com a água dos reservatórios
FOTO: EDIMAR SOARES
A água vem de três açudes: o Escuridão, que tem 3,2% do volume; o São Mateus, 1%; e o açude Souza, com 0,06% da capacidade
Thaís Brito
ENVIADA A CANINDÉ
As torneiras da casa de dona Denanci Martins, 62, não recebiam nada por quase dois meses. Na última terça-feira, 7, a água chegou. Só não em condições de beber ou cozinhar. “É água suja e até fede. É muito salgada, usei para lavar louça e roupa”, lamenta. Ela mora no bairro Palestina, na sede municipal de Canindé (a 120 quilômetros da Capital). A casa está numa região alta, para onde bombear a pouca água da cidade em racionamento de até 70% é um dos muitos desafios na convivência com a seca.
Em bairros altos, como Palestina e São Mateus, muitos moradores recorrem aos poços profundos que podem oferecer água tratada. Dois litros saem por R$ 0,50. O dia todo é de filas em frente aos nove poços com dessalinizadores na sede. São mais sete sistemas na zona rural. Os recipientes vêm na garupa das motocicletas e nos carrinhos de mão. “Compro quatro garrafões e dá para uma semana. Melhor no poço do que os garrafões de R$ 3,50 no comércio”, compara o porteiro Rogério Ferreira, 36. A casa dele fica no bairro Alto Guaramiranga e recebe água na torneira a cada três ou quatro dias. “É só a lama, serve para banho e lavar louça”, conta.
A água que chega às residências vem de três açudes de Canindé. O Escuridão, a 22 quilômetros da sede, tem 3,2% do volume. Dentro da cidade, o São Mateus tem 1%. Já o açude Souza, a cinco quilômetros da sede, está com 0,06% da capacidade. Canindé deve perder o reforço deste último reservatório. “Com o consumo e com a evaporação, essa água dá para mais dois ou três dias”, previa na última quarta-feira, 8, Nelson Bandeira, ordenador de despesas do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) do município.
Durante esta semana, o trabalho era de transferir a água das últimas poças do açude Souza para chegar à bomba que pode levar o recurso até a estação de tratamento da cidade. Um esforço para aproveitar o máximo possível do açude quase seco. “Chamar a situação de crítica é eufemismo”, comentou Nelson, mostrando o chão rachado no reservatório. Após as chuvas de fevereiro a maio de 2013, o açude chegou a ter dois metros de água no leito do rio Souza. Desde outubro do ano passado, não alcançou 1% do volume. Mas conseguia ajudar no abastecimento até agora.
Adutora
Por uma estrada de terra é possível acompanhar as tubulações da adutora emergencial que levará água do açude General Sampaio para os municípios de Canindé e Caridade. O reservatório de origem tem 3,6% do volume. A montagem da adutora tem o próximo mês como prazo final e está com 80% do serviço concluído. Falta terminar o assentamento dos tubos de aço corten (de alta resistência) e concluir uma das seis caixas que servirão de reservatório e possibilitarão o fluxo da rede ao longo de 53 quilômetros.
Em Canindé, a esperança de gestores e da população é que a adutora fique pronta durante a festa de São Francisco das Chagas, iniciada na última quinta-feira, 9, e com encerramento marcado para o próximo domingo, 19. Segundo Frederico Magalhães, engenheiro responsável pela obra na empresa Cimencol, os primeiros testes para bombear água do General Sampaio devem ocorrer no dia 8 de novembro. “Ela tem a tubulação na superfície porque é de montagem rápida. Se fosse toda por baixo, levaria 18 meses para concluir”, informa. A montagem começou em julho deste ano.
Saiba mais
É o terceiro ano consecutivo de estiagem no Ceará. Canindé fica no Sertão Central e tem regiões que sofrem há mais tempo.
Em situação de racionamento e durante os festejos de São Francisco, o planejamento para manter o abastecimento de Canindé prevê demanda de 50 litros por segundo. Sem racionamento, a vazão seria de 113 litros por segundo.
O volume total dos reservatórios do Estado é de 25,5%, segundo dados do Portal Hidrológico do Ceará. Dos 149 açudes monitorados, 114 estão com volumes abaixo de 30% da capacidade.
Multimídia
Veja situação atual do açude Souza, em Canindé, no portal O POVO Online: www.opovo.com.br
Serviço
Acompanhe o nível dos açudes no Ceará
Acesse: www.hidro.ce.gov.br
Tantas cidades pelo país vivendo uma seca muito forte, enquanto candidatos falam tanta "água". Que desperdício!
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