Por Daiana Geremias 21 ago 2015 - 16h 43
Humanos que somos, tem sempre alguma coisa capaz de fazer com que até mesmo a criatura mais calma e pacífica do universo sinta que está prestes a bancar o Michael Douglas em “Um Dia de Fúria” e sair por aí descontando a raiva que sente de alguma forma.
Com a tecnologia, está cada vez mais comum que as pessoas usem emails e redes sociais para descontar a mesma raiva – quem nunca leu/escreveu algum textão raivoso que atire a primeira pedra. É normal acreditarmos que escrever em um momento de raiva é uma forma de desabafar, mas a verdade é que as coisas não funcionam bem assim.
Algumas pesquisas recentes sugerem que, na verdade, quando estamos escrevendo com a intenção de falar sobre algo que nos dá raiva, ficamos com mais raiva ainda e, sem ao menos perceber, acabamos tomando atitudes precipitadas, por impulso mesmo.
O pesquisador Ryan Martin, especialista em estudar o sentimento de raiva, explica que o problema com esse tipo de conteúdo virtual escrito em momentos de fúria é que, quase sempre, o tom raivoso sobrepõe o conteúdo da mensagem em si, de modo que quem recebe essas palavras acaba se focando mais no tom de ódio do que na reclamação em si. E aí o nervosinho em questão perde a razão, ainda que tenha do que reclamar.
Martin explica que a pessoa pode ter um motivo para estar com raiva, mas que esse motivo é sobreposto pelo excesso de palavras rudes, pontos de exclamação e letras maiúsculas – de fato, eis três itens fundamentais de qualquer mensagem raivosa.
Para o especialista, quando estamos falando pessoalmente, tendemos a medir melhor as palavras. Isso não acontece quando mandamos email, pois, ao escrever a mensagem, podemos falar mais e mais, e a pessoa que vai receber o conteúdo não tem como nos interromper, argumentar ou simplesmente nos deixar falando com as paredes.
Quando confrontamos alguém pessoalmente, temos a questão do tom de voz, que é perdido na escrita e que faz toda a diferença em um discurso; e, de quebra, ainda ficamos atentos à linguagem corporal do interlocutor, que pode se defender e responder pontualmente.
O problema da raiva é que expressar aquilo que nos tira do sério e xingar muito é algo que nos faz ter uma sensação boa. Pelo menos no começo. De acordo com Martin, é por isso que as pessoas são tão agressivas em comentários feitos na internet – vale lembrar que é preciso ter cuidado com o que se fala, pois algumas pessoas já se deram mal por xingar muito no Twitter.
“Uma das coisas que as pessoas dizem é que isso faz com que se sintam melhores. Elas se sentem relaxadas e aliviadas. Quando as pessoas estão com raiva, elas querem tomar algum controle da situação – se vingar ou retribuir. Esse impulso é realmente forte, e, quando mandam um email, elas sentem como se tivessem feito algo a respeito”, explica. O problema é que essa sensação de dever cumprido dura pouco.
Martin nos aconselha a pensar bem a respeito daquilo que nos deixou furiosos, de modo que, dessa forma, possamos refletir melhor sobre o que vamos dizer. Quando escrevem a respeito de alguma coisa, as pessoas ficam remoendo aquilo que sentem, e remoer sentimentos é algo que nos deixa com mais raiva ainda. No caso de algo mandado via email ou publicado na internet de alguma forma, é preciso ter em mente que o estrago dificilmente poderá ser reparado.
Devemos entender, no entanto, que escrever é um exercício bom e que traz resultados positivos – contanto que não estejamos com raiva digitando um email gigantesco para o chefe. Para algumas pessoas, escrever é um processo de catarse, que alivia e faz parte do processo da resolução de problemas – nesta publicação, aconselhamos a escrita como exercício para tirar da sua cabeça alguns pensamentos negativos, por exemplo.
“Você pode estar com raiva e enviar um email muito articulado e profundo e isso não será necessariamente um problema. Mas se você envia um email raivoso, com conteúdo profano, isso pode ser um problema”, resume o especialista, que acredita que quando estamos com raiva o melhor é conversar pessoalmente ou por telefone.
Se a vontade de escrever o email foi maior, escreva, mas não envie logo em seguida. Em vez disso, espere um tempo e releia o conteúdo quando estiver mais calmo – possivelmente, quando o nervosismo tiver passado, você vai acabar retirando algumas palavras e sentenças agressivas do texto.
De qualquer forma, o exercício que Martin mais sugere é uma análise de situação. Vai realmente fazer alguma diferença você mandar esse email? A pessoa que o receberá vai mudar de postura por causa de alguma coisa que você sugeriu? Vale a pena tudo isso? Se, no final das contas, você chegar à conclusão de que escreveu o textão apenas para deixar claro que está com raiva, pense bem. Possivelmente não vale a pena fazer isso. A vida é curta e quanto menos energia você gastar com aquilo que não pode mudar, melhor.
E você, tem alguma dica para lidar bem com momentos de ódio? Conte para a gente nos comentários!
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