sábado, 9 de maio de 2015

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

Fonte: http://www.projetomemoria.art.br/



“O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. (...) É nesse sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos. É preciso deixar claro que a transgressão da eticidade jamais pode ser vista como virtude, mas como ruptura com a decência. O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas ou históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar." 
(Pedagogia da Autonomia, 1996).

Escrito durante o exílio, quando morava no Chile, em 1968, o livro Pedagogia do Oprimido é considerado a obra mais completa e importante de Paulo Freire. Traduzida em mais de 20 idiomas, tornou-se referência para o entendimento da prática de uma pedagogia libertadora e progressista. Nela, estão os temas que sustentam a concepção freireana: conscientização, revolução, diálogo, cooperação, entre outras.
Moacir Gadotti, no livro Convite à Leitura de Paulo Freire, afirma que na Pedagogia do Oprimido a ótica de classe do autor “aparece mais nitidamente: a pedagogia burguesa do colonizador seria a pedagogia bancária. A consciência do oprimido encontra-se imersa no mundo preparado pelo opressor; daí existir uma dualidade que envolve a consciência do oprimido: de um lado, essa aderência ao opressor, essa hospedagem da consciência do dominador (seus valores, sua ideologia, seus interesses, e o medo de ser livre) e, de outro, o desejo e a necessidade de libertar-se. Trava-se, assim, no oprimido, uma luta interna que precisa deixar de ser individual para se transformar em luta coletiva”.

  

“A pedagogia tem de ser forjada com ele (o oprimido) e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará."
(FREIRE, Paulo. Pedadgogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.)

Quando Freire fala em pedagogia, ele não está falando apenas das relações que se estabelecem na escola e na sala de aula. A sua pedagogia está relacionada a todo esse contexto de opressão social e de falta de democracia que estamos apontando. Toda educação é política, assim como toda política é educativa. Não existe neutralidade. Portanto, o seu método dialógico, problematizador, não é apenas um método ou uma teoria pedagógica, mas uma práxis que propõe a libertação da opressão que predomina na nossa sociedade:
“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.” 
(FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.)

  

No conceito de pedagogia para a libertação, Paulo Freire caracteriza duas concepções opostas de educação: a concepção “bancária” e a concepção “problematizadora”. Na primeira, o educador sabe tudo e o educando pouco sabe ou nada sabe; o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que nada sabem, que se tornam, afinal meros objetos. “A educação torna-se um ato de depositar, como nos bancos.”
Já na educação problematizadora, educador e educando integram um mesmo processo, estabelecendo-se uma relação dialógico-dialética, na qual ambos aprendem juntos. Aqui prevalece o diálogo, a troca de informações, educador e educando interagem saberes, produzem conhecimento.
Freire distingue a teoria antidialógica (conquista, dominação, manipulação e invasão cultural) à teoria dialógica (colaboração, união, organização e síntese cultural), para destacar que o educador revolucionário não pode usar os mesmos métodos e procedimentos antidialógicos de que se servem os “opressores”.

“(...) Assim como o opressor, para oprimir, precisa de uma teoria da ação opressora, os oprimidos, para libertar-se, necessitam igualmente de uma teoria de sua ação. O opressor elabora a teoria de sua ação, necessariamente sem o povo, pois que é contra ele. O povo, por sua vez, enquanto esmagado e oprimido, introjetando o opressor, não pode, sozinho, constituir a teoria de sua ação libertadora. Somente no encontro com a liderança revolucionária, na comunhão de ambos, na práxis de ambos, é que esta teoria se faz e refaz.”
(FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.)

  

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