04.04.2015
Canindé. As consequências do enfrentamento da pior seca dos últimos 50 anos, no Ceará, tem dado muita dor de cabeça para a população. Pelo quarto ano consecutivo não chove satisfatoriamente no Estado e, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a previsão é que a estiagem se estenda pelos próximos meses.
A pouca água que vem caindo do céu, como resultado da quadra chuvosa, não tem aliviado a situação de milhares de famílias que vivem nas comunidades mais afetadas pela seca. No município de Canindé, localizado a 119 quilômetros da Capital, todos os mananciais estão secos, forçando mais de 70 mil habitantes a racionar o recurso, na zona urbana do Município.
De acordo com a Secretaria de Agricultura do Município, na zona rural, onde existem mais de 500 comunidades, a situação é bem mais grave e faltam alternativas para armazenamento. Medidas como a instalação de cisternas de polietileno para captação de água da chuva e que fazem parte do programa federal "Água Para Todos", estão fazendo falta para muitos destes moradores.
"A gente tem que cavar cacimba para armazenar uma água que nem serve para beber e nem os bichos querem. Agora, que está caindo essa chuva, a gente tenta pegar o que pode, mas não dá pra todo mundo. Aqui em casa a gente já ficou com uma garrafa d'água para três pessoas. O jeito é entregar a Deus", conta a dona de casa Mardênia da Silva, 38, moradora de Madeira Cortada, comunidade rural onde vivem mais de 100 famílias.
Até dezembro do ano passado mais de 34 mil cisternas foram instaladas no Estado, mas segundo o coordenador do Fórum dos Assentados e Agricultores de Canindé, Júnior Mourão, este número é insuficiente e não atende à demanda das famílias, que sobrevivem nas comunidades mais difusas.
"Só aqui temos mais de quatro mil famílias cadastradas para receber esta cisterna e até agora nada. A água cai do céu, mas o povo não pode juntar. Até se for comprar de carro-pipa, a gente não tem onde armazenar a água", disse.
Enquanto a ajuda não vem, os moradores ainda têm fé que as coisas melhorem e estão apelando para São Francisco, o padroeiro da cidade. "Um sonho que eu tenho é de ganhar essa cisterna. Aqui são cinco casas que sobrevivem com água de doação, porque não temos dinheiro pra comprar. Já perdi todos os animais que eu tinha por causa dessa seca. É muito sofrimento, o jeito é se virar como pode", lamenta a agricultora Luciana Soares, 49, que vive com os três filhos, na comunidade da Boa Vista, também na zona rural do município.
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