11.04.2015
Na 11ª fase das investigações, foram detidos ex-deputados e mais quatro pessoas ligadas a eles
Curitiba. Mais de um ano depois de seu início, a Operação Lava-Jato levou ontem, pela primeira vez, políticos suspeitos de corrupção à prisão. As investigações extrapolaram os negócios relacionados à Petrobras e atingiram também a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde.
Foram detidos os ex-deputados federais André Vargas (ex-PT, hoje sem partido), Luiz Argôlo (ex-PP e hoje Solidariedade-BA) e mais quatro pessoas ligadas a eles. Também houve ordem de prisão contra o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), que já estava preso em Pernambuco por condenação no mensalão. Ele será transferido para a PF em Curitiba.
Os políticos só puderam ser presos neste momento, com decisão de primeira instância, porque não exercem mandato e não têm direito ao foro privilegiado que exigiria que fossem investigados em tribunais superiores.
As prisões de ontem fazem parte da 11ª fase da operação. "Essa investigação vai nos levar a mares nunca dantes navegados", afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que coordena as investigações.
Na Caixa e no Ministério da Saúde, novos alvos da operação, os desvios eram feitos a partir de contratos de publicidade, segundo as investigações. Ricardo Hoffmann, diretor-geral da agência de publicidade Borghi/Lowe em Brasília, que detinha contratos com os dois órgãos, foi preso.
Só do Ministério da Saúde a empresa recebeu R$ 112,8 milhões desde 2011. Há suspeita de que a agência tenha pago propina para obter vantagens nos contratos. Segundo a Polícia Federal, 10% do valor dos contratos mantidos com a Caixa e o ministério eram desviados para empresas de fachada de Vargas e de seu irmão, Leon Vargas, que também foi detido. As empresas eram a LSI e a Limiar Consultoria. Com nenhum ou apenas um funcionário, ambas eram usadas, segundo o Ministério Público, "tão somente para pagamento de vantagem indevida em favor do ex-deputado".
O dinheiro era repassado por meio de subcontratadas da Borghi/Lowe. Intimadas pela Receita Federal sobre os pagamentos, algumas declararam que, de fato, não houve prestação de serviços à LSI ou à Limiar, mas que fizeram os depósitos por orientação da Borghi/Lowe.
Segundo a reportagem apurou, nas buscas realizadas ontem, foram encontrados documentos que apontam que dezenas de outras empresas ligadas ao ramo de publicidade fizeram pagamentos às firmas de fachada de Vargas.
Entre pagamentos feitos à Limiar, está um depósito da JBS, de R$ 200 mil, feito em 2010 - ano em que Vargas foi reeleito deputado federal.
A empresa é uma das maiores doadoras eleitorais do país. Consultada, a empresa confirmou o pagamento, mas disse não saber a que serviço ele se devia.
O juiz federal Sergio Moro disse que "não é possível afirmar por ora" que este depósito teve causa ilícita. A investigação também aponta que há "razoável prova" de que Vargas realizou "intensas intervenções junto ao Ministério da Saúde" para aprovar parceria de R$ 31 milhões com o laboratório Labogen, investigado na Lava-Jato.
Outros detidos
O ex-deputado Luiz Argôlo é investigado sob a acusação de ter atuado com o grupo da Labogen, o que ele nega. Pedro Corrêa, ex-deputado condenado no mensalão, foi acusado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa de ter recebido R$ 5,3 milhões de uma só vez por meio do esquema de corrupção na estatal. Os investigadores agora querem saber quem são os demais destinatários da propina, além dos ex-deputados presos.
Medidas em resposta são anunciadas pelos órgãos
Brasília. A suspeição de que contratos com agência de publicidade firmados pelo Ministério da Saúde e pela Caixa Econômica Federal tenham sido usados para desviar recursos públicos por políticos investigados na Operação Lava-Jato fez com que os órgãos anunciassem medidas em resposta à 11ª fase das investigações, deflagrada ontem pela Polícia Federal.
O Ministério da Saúde anunciou que vai suspender os pagamentos à agência de publicidade Borghi Lowe, contratada por meio de licitação em 2010 para criar campanhas para o Programa Mais Médicos, e para ações de combate a doenças como Poliomelite, tuberculose e a gripe H1N1. O órgão divulgou também a criação de comissão de sindicância e disse que passará informações dos contratos de publicidade para a Controladoria Geral da União, para o Tribunal de Contas da União e para o Ministério Público.
A Caixa informou que abrirá apuração interna para averiguar os fatos revelados pelas investigações da PF. "A Caixa reitera que vai colaborar integralmente com as investigações e informa que encaminhará imediatamente todos os contratos relacionados às empresas citadas à Controladoria-Geral da União, à Polícia Federal e ao Ministério Público", afirmou, em nota, o banco.
Agência é a 4ª do ranking nacional de publicidade
Brasília. A agência Borghi/Lowe, citada nas investigações da Operação Lava-Jato, é a quarta maior empresa do setor publicitário no País, segundo levantamento feito do Ibope Media referente a 2014. O investimento da empresa em compra de mídia somou R$ 3,45 bilhões no ano passado. Os dados excluem os descontos que os veículos de comunicação oferecem às agências. Na pesquisa referente ao primeiro bimestre de 2015, a Borghi aparece na segunda posição, com investimentos de R$ 545 milhões
A empresa tem três grandes contas de órgãos e empresas públicas: Ministério da Saúde, Caixa Econômica Federal e Petrobrás Distribuidora. Segundo o Ibope, a Caixa é o banco que mais investe em publicidade no País: gastou R$ 2,3 bilhões em publicidade no ano passado, alta de 37% em relação a 2013.
Levantamento feito pela Agência Estado no Portal da Transparência mostra que a pasta efetuou repasses de R$ 113 milhões entre 2011 e março deste ano para a agência. Além disso, a pasta disse que não vai autorizar novas ordens de serviço para a referida a agência.
Segundo as investigações da Lava-Jato, o escritório da agência em Brasília usava as verbas conhecidas no mercado publicitário como "bônus de volume" para pagar propinas a empresas ligadas ao ex-deputado André Vargas.
No ano passado, o PT pressionou Vargas para renunciar ao mandato de deputado em meio à denúncia de que era ligado ao doleiro Alberto Youssef. A Câmara cassou os direitos políticos dele no fim de 2014.
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