11.04.2015
Mais de 50% dos que nascem no País são por cirurgia. Especialista culpa hospitais por iniciarem prática
Brasília. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta para o Brasil como o líder em cesáreas e alerta que o aumento dessa prática em maternidades transformou em uma "epidemia" no País. A declaração foi feita em Genebra, em uma tentativa de convencer médicos, hospitais e mulheres para que repensem os partos.
Para a OMS, cesáreas somente devem ser realizadas quando existem "motivos médicos". "Desde 1985, sempre dissemos que a taxa ideal de cesáreas seria de 10% a 15% dos partos em um país", disse Marleen Temmerman, ginecologista e diretora de Saúde Reprodutiva na OMS.
Em 20 anos, todas as regiões do mundo registraram um aumento nos casos de cesáreas. "Há uma epidemia, mesmo quando não existe uma necessidade médica", declarou a diretora, indicando que mesmo na África a taxa também aumentou.
Em média, a taxa de cesárias na Europa é de 20% a 22%, contra 15% há 20 anos. Já nos Estados Unidos, a taxa é de 32,8%. Conforme estudos, quanto menor a taxa, menores os índices de mortalidade materna e entre recém nascidos.
Sobre o Brasil, a OMS não poupa críticas. "O Brasil é o líder mundial", informou. Mais da metade dos nascimentos no País são por cesáreas. Brasil e Chipre são os únicos países do mundo em que partos naturais são minoria. "O que vemos é que, em duas décadas, os casos no Brasil aumentaram de forma exponencial", disse a diretora.
Dados da OMS de 2011 mostram que 53,7% dos partos no Brasil eram cesáreas, a maior taxa do mundo. Em 2010, a taxa era 52,3%. As estimativas, porém, apontam que, ao fim de 2014, já teria chegado a 55%.
Prática disseminada
Matin Gulmezoglu, coordenador do Departamento de Saúde Maternal da OMS, admite que governo e entidades brasileiras estão tentando reduzir a taxa. Mas alerta que "não será uma tarefa fácil, já que a prática parece estar disseminada".
Pelo banco de dados da OMS, que de fato não consegue incluir todos os países por falta de informação, a Colômbia apresenta um número elevado, de 42%, contra 43% na República Dominicana. No Chipre, a taxa chegou a 50%, contra 47% no Irã.
Segundo Matin Gulmezoglu, existem diversas razões para o aumento da prática. "Em primeiro lugar, essas operações são mais seguras hoje, com antibióticos e anestesia", disse.
Mas Marleen Temmerman culpa os médicos e hospitais por terem dado início à "epidemia". "Quando há a medicalização dos partos, vemos um aumento das cesáreas", disse. "Para um ginecologista, é melhor fazer cesárias para que possam se organizar e hospitais puxam nessa direção para que tenham uma agenda determinada", explicou. "É uma questão logística, não financeira".
Outro alerta da OMS é de que as práticas passaram a fazer parte da "cultura" de certas classes sociais. "Precisa haver uma conscientização de que, apesar de segura hoje, trata-se de uma intervenção cirúrgica que pode ter impacto negativo para a mãe e a criança", analisou a diretora da Organização.
Alertas
De acordo com a OMS, a cesariana pode ser necessária quando o parto vaginal coloca em risco a vida da mãe e do bebê, como em casos de trabalho de parto prolongado, sofrimento fetal ou quando o bebê está em uma posição pouco comum (transverso).
A OMS destaca que as cesarianas podem provocar complicações como incapacidades ou morte, particularmente quando não há instalações adequadas para os procedimentos cirúrgicos de forma segura.
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