Então você acha que a sua tatuagem foi dolorida de fazer? Então dê uma olhada no que fazem algumas tribos africanas com navalhas, espinhos e muito autocontrole
Pode ser apenas alguns detalhes sutis no rosto, no peito ou nos braços. Ou, como sinal compartilhado de beleza e força, pode haver também padrões intrincados de pontos e linhas, formando um conjunto incrivelmente elaborado. Mas a importância aqui não é apenas estética: a escarificação é um processo ritualístico de suma importância em diversas tribos africanas.
Ok, também deve ser algo incrivelmente dolorido, o que pode ser facilmente imaginado pelo processo. Basicamente, após uma porção da pele ser puxada por um espinho, a região é cortada por uma lâmina. A fim de dar mais proeminência ao local após a formação da cicatriz, algumas tribos ainda aplicam seiva ou cinzas sobre o ferimento. (E você aí achando que tatuagem no peito do pé era o máximo de dor cobrado pela estética, hein?).
BELEZA, TRANSIÇÃO E PERTENCIMENTO
O processo de escarificação é bastante comum entre diversas tribos africanas. Os motivos, entretanto, podem variar de região para região e de tribo para tribo. Em alguns casos, as cicatrizes provocadas são sinal de beleza, simbolizando ainda a chegada à idade adulta — algo bastante comum entre diversas tribos etíopes. Entre os Nuer, por exemplo, várias linhas na testa deixam claro que o menino se tornou um homem.
Mas o processo não se destina apenas aos homens. Embora não sejam obrigadas, também as mulheres se submetem à escarificação, dada a relevância das marcas — que, entre outras coisas, pode indicar uma menina que poderia suportar bem as dores do parto.
“A menina de 12 anos que era cortada não esboçou qualquer reação durante 10 minutos de cerimônioa, recusando-se a mostrar sinais de dor”, disse o fotógrafo francês Eric Lafforgue, cuja temporada entre várias tribos em regiões da Etiópia e Uganda renderam as belas imagens que você vê ao longo deste texto.
“A mãe dela utilizou um espinho para puxar a pele e uma lâmina para cortá-la”, ele explica. “Ao final, eu perguntei a ela se havia sido difícil ter sua pele cortada, ao que ela respondeu que estava prestes a ter um colapso.” De acordo com Lafforgue, seria vergonhoso para a família se ela não tivesse podido suportar a dor.
UMA PRÁTICA EM DECLÍNIO
A despeito da significação honorífica que as escarificações possuem entre os povos que as praticam, o processo tem se tornado cada vez mais raro entre essas mesmas tribos. De acordo com Lafforgue, a urbanização e a conversão a outras religiões (como o cristianismo) transformaram as escaras em um sinal de “primitivismo” aos olhos de grande parte do povo.
E há também o risco de doenças pelo compartilhamento dos materiais utilizados durante o processo. “Compartilhar lâminas tem se tornado um problema sério na região ao sul de Omo”, explica Lafforgue. “A hepatite começou a se espalhar, conforme trabalhadores de outras partes da Etiópia chegam para trabalhar nas enormes plantações [subsidiadas pelo governo. A AIDS também se tornou uma grave ameaça.”
Ademais, sendo sinais distintivos de pertencimento, as utilização das escaras acaba por potencializar os conflitos entre tribos no local — tornados cada vez mais frequentes nos últimos anos.
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