21.12.2014
Grupo de Estudos investiga a alergia aos pólens do caju, da flor de jambo, dos crustáceos e da mandioca
A prevalência de alergias tem crescido juntamente com a identificação de novos alérgenos, afirma a diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai - regional Ceará), Dra. Fabiane Pomiecinski. Para tanto, o Grupo de Estudos de Novos Alérgenos Regionais (Genar) tem intensificado as investigações em torno de novos alérgenos no Estado, a exemplo da alergia ao pólen do caju e da flor de jambo, assim como da tropomiosina, principal alérgeno dos crustáceos.
O Genar reúne pesquisadores da Asbai, do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/FMUSP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Caju e jambo
No caso do pólen do caju, explica, a escolha partiu de uma queixa comum dos pacientes com rinite, asma e conjuntivite alérgica que percebem uma piora nos sintomas nos meses de floração do cajueiro (de setembro a outubro o cajueiro se prepara para a safra que acontece nos três meses seguintes).
"Sabemos que o pólen do caju é pesado e que não é capaz de viajar longas distâncias, uma vez que sua polinização ocorre mais por meio dos insetos do que pelo vento. Porém, em Fortaleza, estamos em contato frequente e próximo com cajueiros", destaca a especialista em alergia e imunologia. Os estudos ainda estão em fase inicial, sendo uma das dificuldades encontradas o fato de os pacientes também serem alérgicos a ácaros da poeira.
Durante a Conferência Científica Internacional da WAO (World Allergy Organization), realizada no início deste mês, foi apresentado um estudo realizado pelos alunos do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor), no qual, por meio de um questionário eletrônico, 33% dos entrevistados perceberam piora dos sintomas de rinite ou asma no segundo semestre do ano. Dra. Fabiane Pomiecinski cita o pólen da flor de jambo como sendo outro alérgeno suspeito (mas ainda sem confirmação).
Crustáceos
No caso da alergia alimentar, a médica cita um projeto desenvolvido pela Unifor em parceria com o Genar, que busca identificar a reatividade clínica com os crustáceos. "Quando um paciente é alérgico a um crustáceo, nós alergologistas orientamos que sejam excluídos todos da dieta. Porém, muitos fortalezenses referem que podem comer um e têm reação alérgica a outro. Vários pacientes têm alergia a caranguejo, mas comem camarão sem sentir nenhuma reação".
Ao contrário do Nordeste, no Sul do País as alergias a pólens são mais conhecidas, uma vez que as estações são bem definidas e muitos dos pólens são comumente também encontrados na Europa.
Mandioca
Um dos primeiros alérgenos investigados pelo Grupo de Estudos de Novos Alérgenos Regionais foi o da mandioca. "Foram identificados alérgenos que podem estar envolvidos na reatividade cruzada com fungos e um alérgeno nomeado "Man" e "5", que apresenta reatividade cruzada com o látex da borracha". Essa reatividade explicaria porque um paciente alérgico a látex pode ter reação ao comer mandioca.
A descoberta do alérgeno brasileiro tem implicações diretas no mercado externo, especialmente na Europa e na América do Norte. Importante lembrar que o amido de mandioca tem sido utilizado pela indústria de todo o mundo sem que essa informação seja detalhada e chegar até o conhecimento dos consumidores.
Uma das razões de o amido de mandioca ser escolhido para uso em diferentes indústrias - incluindo os alimentos para bebês - é o fato de ter sido considerado até então uma fonte não alergênica.
Na alergia alimentar estes estudos são de grande importância, pois o exame considerado padrão ouro para o diagnóstico é o teste de provocação oral, que consiste em dá o alimento para o paciente ingerir em doses crescentes e observar os sintomas, que não é aplicado muitas vezes por ser de difícil execução e de acarretar riscos ao paciente.
Alimento saudável, limpo e justo
Melhorar a qualidade da nossa dieta e priorizar tempo para saboreá-la é uma forma simples de tornar o cotidiano mais saudável e prazeroso. Esta é a filosofia do Movimento Slow Food, precursor do conceito de valorização da comida natural, fresca, que valoriza os sabores, o produtor e o meio ambiente.
Associação internacional sem fins lucrativos, o movimento criado em 1989 conta hoje com cerca de 100 mil membros espalhados em mais de 150 países. No Brasil, o conceito de alimento saudável, limpo e justo fez germinar outras iniciativas como o Instituto Maniva, premiado por contribuir para crescimento da ecogastronomia e fortalecer a agricultura familiar e orgânica (o Maniva integra o circuito de feiras orgânicas do Rio de Janeiro).
A máxima de que "comida é afeto, é cultura, é memória" pontua todas as ações do Maniva, principalmente no trabalho de resgate de culturas tipicamente brasileiras. É o caso da mandioca - 95% dos agricultores familiares plantam esse tubérculo.
Há cerca de dois anos, a história dessa cultura - mais especificamente o resgate do 'fazer a farinha d'água' - resultou em um rico documentário, tendo como personagem central 'Seu Bené', que se autointitula 'professor da farinha' de Bragança, no Pará.
Histórias de amor pela prática do plantio limpo e justo (como defende o Movimento Slow Food) foram contadas pelas ecochefs Ciça Roxo (Aguce gastronomia), Flávia Quaresma (Palato Gourmand) e Teresa Corção (O Navegador) no workshop apresentado durante o Festival Imersões, realizado este mês, no Complexo Lagoon (RJ).
Além da farinha d'água, o Instituto Maniva desenvolve projetos de resgate de diferentes brotos, ervas e condimentos, a exemplo da aroeira (pimenta-rosa), assim como da flor-de-capuchinho. "Se o passarinho come, deve ser muito bom. Precisamos ensinar as comunidades a valorizar estes alimentos. Ajudar a firmar essa simbiose/troca entre agricultores e chefs é a nossa missão", pontua Quaresma.
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