Jovens se reúnem em shoppings para passear e se divertir. Mas os casos mais recentes têm gerado caos nos centros comerciais. Entenda melhor o que é e como começou essa onda
Por Fernando Daquino em 17 de Janeiro de 2014
(Fonte da imagem: Reprodução/CBN)
Se você acompanhou os noticiários online, impressos ou televisivos das últimas semanas, deve ter se deparado com relatos e implicações dos chamados rolezinhos.
O assunto ganhou grande repercussão na mídia a partir de dezembro do ano passado, quando as aglomerações de jovens marcadas pela internet, com o objetivo inicial de um simples passeio, começaram a ocasionar tumultos e confrontos com a polícia.
Mas você sabe qual o exato conceito do rolezinho? E como essa manifestação popular começou? Quais são, ou foram, os motivos que levaram a essas reuniões de centenas e até milhares de pessoas? Como as redes sociais ajudaram a tornar essa prática uma moda e quais as consequências que esse tipo de encontro tem gerado? Neste artigo nós vamos deixá-lo a par de tudo isso.
#partiurolezinhonoshopping
Em sua essência, os rolezinhos nada mais são do que encontros de pessoas, em sua grande maioria de jovens, com o objetivo de dar um rolê, ou seja: passear, comer um lanche, fazer novas amizades e paquerar.
Na verdade, esse tipo de evento não é exatamente uma novidade. Há muitos anos, estacionamentos de postos de gasolina, supermercados, entre outros estabelecimentos são pontos de encontro durante as noites e madrugadas, principalmente nos finais de semana, para que os jovens possam conversar, ouvir música e cantar.
(Fonte da imagem: Reprodução/Renato Mendes para Estadão Conteúdo)
A nova onda se diferencia pela enorme quantidade de participantes, o que foi possível graças ao poder de viralização e de interação da internet — mais especificamente das redes sociais. Foi basicamente através de eventos criados no Facebook que milhares de pessoas passaram a se reunir em shoppings de várias cidades do país, afinal esses são os locais perfeitos para caminhar vendo vitrines, comer e azarar.
A ideia do encontro
Mas por que combinar de sair com tantas outras pessoas, as quais muitas vezes nem sequer se conhecem? Aqui parece existir uma separação de pretextos. Alguns dos organizadores encaram os rolezinhos como uma manifestação pura e simplesmente em prol de mais lugares de lazer. Os primeiros rolês teriam sido organizados por cantores de funk como uma forma de explicitar sua indignação com um projeto de lei que proibia bailes do gênero nas ruas de São Paulo.
Em contrapartida, há uma segunda vertente do movimento. Esse formato de reunião teria surgido ainda em 2012 como um encontro de fãs. Jovens populares em redes sociais se articularam para promover encontros que permitissem uma maior proximidade entre ídolos e seus seguidores. Quando citamos ídolos, não estamos falando de astros da TV, do cinema ou do esporte, mas sim de jovens com perfis famosos na web.
Encontro dos jovens no Shopping Metrô Itaquera, na capital paulista. (Fonte da imagem: Reprodução/INFO Online)
Um exemplo desse tipo de celebridade virtual é Juan Carlos Silvestre, um adolescente de 16 anos que é conhecido na internet como "Don Juan" e possui mais de 50 mil seguidores no Twitter. Uma de suas fãs, Jhenifer, de 17 anos, contou à Folha de S.Paulo (conforme cita o BOL) que gosta dos encontros e já participou de sete deles. "Tem que ser em um lugar onde dê para zoar e tirar foto com o ídolo", disse a jovem.
Os primeiros rolezinhos
Embora iniciativas parecidas já existissem, conforme comentamos acima, o atual formato, que viralizou com a ajuda das redes sociais, se concentrou na cidade de São Paulo e repercutiu pela primeira vez no dia 7 de dezembro de 2013, quando aproximadamente 6 mil jovens foram até o Shopping Metrô Itaquera, na Zona Leste da capital paulista.
Devido à aglomeração incomum de tantas pessoas, algumas lojas fecharam as portas mais cedo com medo de saques. O final do evento não foi dos melhores: houve corre-corre nos corredores do centro comercial e a polícia acabou sendo acionada. Após o ocorrido, clientes e comerciantes entraram em contato com o shopping informando sobre furtos efetuados durante o incidente.
(Fonte da imagem: Reprodução/Robson Ventura para Folhapress)
Concentrando cerca de 2,5 mil adolescentes, o segundo rolezinho seguiu para o Shopping Internacional de Guarulhos no dia 14 de dezembro. O desfecho do passeio foi o mesmo, mas com 22 suspeitos detidos pelas autoridades e liberados depois de averiguações.
Na semana seguinte, na data de 22 de dezembro, época em que os centros comerciais estão lotados devido à proximidade do Natal, o rolê combinado pela internet debandou para a Zona Sul de São Paulo, no Shopping Interlagos. Dessa vez, não foram registrados furtos, mesmo assim quatro pessoas foram detidas.
Já em 2014, no dia 4 de janeiro, foi a vez do Shopping Tucuruvi, em São Paulo, receber os participantes de outro encontro. Nesse evento não foram informados roubos ou prisões, mas o tumulto das centenas de pessoas fez com que o expediente das lojas fosse encerrado três horas antes do convencional.
(Fonte da imagem: Reprodução/Robson Ventura para Folhapress)
No dia 11 de janeiro ocorreu aquela que talvez tenha sido a reunião mais caótica, novamente marcada para o Shopping Metrô Itaquera. De acordo com notas da Polícia Civil da capital paulista, foram registrados um furto e dois roubos. A Polícia Militar do estado entrou em ação e usou balas de borracha e gás lacrimogênio para dispersar o grupo. Nesse mesmo dia aconteceram eventos paralelos nos shoppings Campo Limpo e JK Iguatemi.
Caso de polícia
A intenção dos rolezinhos em sua essência é aceitável, ingênua e não fere qualquer tipo de legislação. Contudo, na prática os encontros estão gerando algazarra nesses espaços privados abertos ao público, ocasionando tumulto e pânico — o que é um delito criminal. Isso sem falar na infiltração de pessoas mal-intencionadas nesses grupos, as quais querem apenas furtar e promover baderna.
Com isso, lojistas se sentem obrigados a fechar as portas mais cedo e os visitantes, muitas vezes amedrontados, vão para suas casas. Como era de se esperar, não demorou muito para que as administrações dos shoppings entrassem com pedidos de apoio judicial para evitar maiores prejuízos. E elas conseguiram decisões a favor da triagem de clientes.
(Fonte da imagem: Reprodução/Bruno Poletti para Folhapress)
Por exemplo, no dia 10 de janeiro, a juíza Daniella Carla Russo Greco de Lemos expediu uma liminar impedindo o rolezinho programado para o Shopping Itaquera, estipulando uma multa de R$ 10 mil para quem desrespeitar a determinação. A magistrada alega que a Constituição Federal prevê direito à livre manifestação, mas sendo exercida com limites.
"A Constituição Federal de 1988 estabeleceu diversas garantias fundamentais em seu art. 5º. Entre elas a da livre manifestação, o direito de propriedade, a liberdade do trabalho. O art. 6º garante, ainda, como direito social, a segurança pública, o lazer, entre outros. O direito à livre manifestação está previsto na Constituição Federal", afirmou a juíza ao site G1.
"Contudo, essa prerrogativa deve ser exercida com limites. Ora, o exercício de um direito sem limites importa na ineficácia de outras garantias. De fato, se o poder de manifestação for exercido de maneira ilimitada a ponto de interromper importantes vias públicas, estar-se-á impedido o direito de locomoção dos demais. Manifestação em Shopping Center, espaço privado e destinado à comercialização de produtos e serviços, impede o exercício de profissão daqueles que ali estão sediados, bem como inibe o empreendedorismo e a livre iniciativa", complementou Greco de Lemos.
Repercussão na mídia
Em consequência dessas decisões judiciais, surgiram novas discussões que colocam governos, comerciantes e organizadores um contra o outro. Associações pedem para que as prefeituras liberem espaços de seu domínio para o público. Por sua vez, muitos dos governantes alegam não ter locais viáveis e disponíveis para isso. Enquanto isso, os integrantes continuam sem ter onde aproveitar os finais de semana.
Foto do rolezinho gospel ocorrido em Cascavel, interior do Paraná. (Fonte da imagem: Reprodução/Folha de S.Paulo)
Polêmicas à parte, de maneira geral, a repercussão dos rolezinhos é negativa. Com isso, responsáveis por shoppings e autoridades começaram a monitorar atividades relacionadas a esse tipo de manifestação nas redes sociais. Inclusive, vários dos eventos criados no Facebook para organizar a concentração de adolescentes e jovensestão sendo apagados.
Mas nem todas as notícias sobre os rolês têm uma perspectiva recriminatória. A iniciativa originada em São Paulo serviu de inspiração para grupos específicos de jovens. Uma dessas reuniões aconteceu no maior centro de compras de Cascavel, no interior do Paraná, onde adolescentes se reuniram na praça de alimentação para ler a Bíblia.
Fonte: Folha de S.Paulo, INFO Online, Diário Catarinense, G1, Correio Braziliense, BOL
Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/49221-rolezinho-como-as-redes-sociais-impulsionaram-esta-moda.htm#ixzz2qnst5rdy
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