domingo, 1 de março de 2015

Bibliotecas apresentam falhas e existem em poucos bairros

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
01.03.2015
Três equipamentos são mantidos pelo poder público, e o maior deles está fechado há cerca de um ano

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A Biblioteca Vila das Artes apresenta bom estado de conversação e acervo variado, mas enfrenta carência de serviço informatizado
FOTO: LUCAS DE MENEZES
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Na Biblioteca Dolor Barreira a falta de cuidado é vista na entrada, e continua do lado de dentro
FOTO: ÉRIKA FONSECA
A depender da perspectiva, a leitura tem vários fins. É, porém, uma das atividades mais necessárias no dia a dia. Os ambientes para a prática variam, mas há um consenso no fato de as bibliotecas serem espaços que vão além do caráter de necessidade, ou seja, ocupam papel central em atividades de lazer, estudo, disseminação da cultura e da memória viva do povo.
Em Fortaleza, no entanto, as bibliotecas de responsabilidade do poder público - abertas a qualquer cidadão - são apenas três e não chegam à população de áreas periféricas, concentrando-se em apenas duas das sete Secretarias Regionais (SER) da Capital: SER IV e a do Centro.
Para agravar a situação, a maior delas, mantida pelo Estado, Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, está fechada há cerca de um ano e não há prazo para ser reaberta.
Criada em 25 de março de 1867, a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel integra o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Interditado há mais de 11 meses para reforma, o espaço representou momentos de lazer para parte da população cearense durante décadas. Com um acervo de aproximadamente 130 mil volumes, dentre estes, dez mil raros, o local de 2.272m² não tem data definida para ser reaberto.
Conforme a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), até o dia 10 de abril deste ano, deve começar a reforma geral no espaço, incluindo novas instalações elétricas. "Ao final do processo, muitos novos exemplares devem ser catalogados", ressalta nota encaminhada sobre o tema.
Ainda segundo a Secult, durante esses meses em que permanece fechada, os funcionários da biblioteca estadual deram expediente interno com trabalho na catalogação e higienização de títulos. "Nesse meio tempo, foi realizada a obra de integração com o Dragão do Mar, cujo o Estado investiu R$ 2 milhões. Planejamos transferir para outro espaço a parte do acervo que é consultada com mais frequência".
Espaços municipais
Outro agravante é a situação crítica da Biblioteca Municipal Dolor Barreira, mantida pela Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e com um acervo de 26 mil obras. Quem vai ao local, além do forte cheiro de mofo, que denota o abandono, percebe a precariedade da estrutura, além do amontoado de material em desuso no prédio, onde também falta água nos banheiros. O espaço é localizada no Benfica, bairro tradicionalmente frequentado por estudantes, e recebe no período de 30 dias, de acordo com a Secretaria, mais de três mil visitantes.
Os livros, segundo a Secretaria, estão disponíveis para consultas e podem ser alugados pela população. Fundada em 1971, a biblioteca está localizada na Avenida da Universidade, 2572, com funcionamento de segunda a sexta-feira das 8h às 20h, aos sábados das 8h às 17h.
Também vinculada à Prefeitura, a Biblioteca da Vila das Artes, situada no Centro da Capital, precisamente na Rua 24 de Maio, 1221, apresenta um menor acervo, totalizando dois mil exemplares disponíveis. No entanto, essa também passa por dificuldades. Atualmente, o maior problema da biblioteca é a falta de um sistema informatizado e de um software para cadastrar os visitantes.
Nas estantes há edições especializadas em artes, música e audiovisual. O espaço também conta um acervo raro e histórico da revista "A Cena Muda", datada do ano de 1950 divulgando notícias das celebridades hollywoodianas.
Aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e entre as 13h e às 20h, apenas os alunos da Vila podem alocar livros. Estes são os únicos equipamentos de responsabilidade do Município, conforme dados da secretaria.
A falta de incentivos e investimentos do poder público é acompanhada pelos hábitos da população. Prova disso é que, apesar de a leitura ser atividade importante no desenvolvimento da capacidade intelectual, o último estudo do Instituto Pró-Livro, em 2011, revela que o brasileiro lê em média quatro livros por ano. No total, 50% dos brasileiros são considerados leitores por terem lido pelo menos uma obra nos últimos três meses.
Número ainda maior é obtido quando a questão é frequentar bibliotecas. Com 5 mil pessoas entrevistadas em 315 cidades pela pesquisa, constatou-se que 75% da população nunca frequentou uma biblioteca na vida e, muitas, apontaram somente a Bíblia como livro de cabeceira.
De acordo com o cadastro no Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, há, atualmente, 203 estabelecimentos do tipo em todos os municípios do Ceará, somados a 115 comunitárias, sem vínculos com os órgãos públicos. Nas escolas municipais e estaduais há, ainda, inúmeros estabelecimentos deste porte, cujo uso é prioritário dos alunos matriculados estendendo-se aos funcionários da instituição.
Falta de incentivo prejudica hábitos e incomoda usuários
O número reduzido de bibliotecas públicas, assim como a distribuição entre os bairros em Fortaleza, desagrada os que buscam espaços apropriados para a leitura. A estudante Marília Muniz, moradora do bairro Antônio Bezerra, na Regional III ressalta a importância em reestruturar os espaços. "O poder público não se importa em modernizar. Perto daqui não conheço nenhuma. Penso que as bibliotecas estão perto do fim, ninguém respeita o local e não trazem novas obras, é sempre tudo muito antigo", diz.
A professora Eliene Alcântara se diz prejudicada devido à não renovação das obras no acervo público. "Quando fui fazer minha monografia, tive que ir em bibliotecas particulares procurar os livros que eu precisava. Hoje, com a internet, fica até mais fácil, pois os jovens têm muitas fontes de pesquisa, mas na minha época foi bastante complicado, é um problema antigo".
Já a historiadora Adelaide Gonçalves, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca a leitura como um direito e ressalta a importância de construir mais espaços na Capital. "É preciso ficar um pouco na biblioteca, fazer uso deste espaço para experimentar o contato com o livro e dar sentido ao local. Os bairros deviam ter salas de leitura, há várias formas de semear o hábito, mas falta compromisso público com os leitores", afirma.
A fim de proporcionar ao público espaços próprios para ler, Adelaide Gonçalves idealizou o Plebeu Gabinete de Leitura, inaugurado há três anos com o acervo inicial disponibilizado pela própria docente. O espaço fica na Rua Floriano Peixoto, no Centro, sediando oficinas de leituras com crianças e jovens e convidando os visitantes a permanecerem dentro do local, formando círculos de leituras, com discussões sobre as histórias lidas.
"Tenho muitos livros, sempre gostei de comprar diferentes obras encontradas durante viagens. Amigos e colegas também começaram a doar. Fizemos essa aposta no sentido de semear livros na cidade. É uma questão de sensibilidade, apoio mútuo", conta Adelaide, que também ajuda a preencher prateleiras de outras bibliotecas independentes.
Projetos
Questionada sobre a necessidade de dar vida a novos projetos de incentivo à leitura, a assessoria de comunicação da Secult afirma que a pasta apoia ações que propaguem a Cultura e cita o Projeto Agentes de Leitura, criado em 2006 junto ao Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop), em que agentes acompanham o processo leitor de 25 famílias por ele cadastradas, dentre as escolhidas pelas secretarias municipais de Educação. "O Governo do Ceará criou e mantém esse projeto a fim de democratizar o acesso aos livros para moradores de comunidades distantes e levar hábitos de leitura para todos", cita a assessoria de comunicação.
Saiba mais
Alternativas na capital
1.Plebeu Gabinete de Leitura
Rua Floriano Peixoto, 736 - 3º andar, Centro. Espaço possui mais de 15 mil livros disponíveis para consulta, o local está aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 17h;
2.Biblioteca Inspiração Nordestina do Banco do Nordeste
Rua Floriano Peixoto, 941 - do local com horário de funcionamento das 10h às 19h, de terça-feira até sábado
3.Biblioteca Filgueiras Lima do Ideal Clube - encontra-se junto ao clube, na Avenida Monsenhor Tabosa, 1381, Meireles aberta ao público das 14h às 20h
4.Biblioteca César Cals de Oliveira
Localizada na Av. Desembargador Moreira, 2807, sala 18, no 4º andar do prédio. Os equipamentos do espaço e o acervo são disponibilizados para consulta do público das 8h às 17h.

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