Fonte: http://diariodonordeste.globo.com
19.03.2013
Objetivo é ter no papa um aliado para fortalecer a Argentina na disputa das ilhas com a Grã-Bretanha
Cidade do Vaticano. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pediu ao papa Francisco para intervir em apoio a Buenos Aires na disputa com a Grã-Bretanha sobre as Ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, disse ela na manhã de ontem.
Antiga inimiga política do ex-cardeal, Cristina Kirchner foi a primeira chefe de estado a ser recebida por Francisco no Vaticano Foto: Reuters
Cristina almoçou com o ex-arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio no Vaticano, pouco depois de chegar a Roma para assistir à sua missa inaugural papal, que acontece hoje, às 5h30min.
"Eu pedi a intervenção dele para evitar problemas que podem surgir a partir da militarização da Grã-Bretanha no Atlântico sul", disse ela.
Cristina Kirchner, que preside a Argentina há seis anos, montou uma campanha para renegociar a soberania do arquipélago, mas a Grã-Bretanha tem resistido, causando uma série de disputas diplomáticas.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse na semana passada que o papa Francisco, o primeiro pontífice vindo da América Latina, tinha errado ao dizer em 2012 que a Grã-Bretanha "usurpou" as ilhas disputadas com a Argentina. No ano anterior, Bergoglio afirmou que as ilhas eram "nossas", uma visão que a maioria dos argentinos compartilha.
Cameron afirmou que o povo das ilhas tinha deixado clara a sua visão em um referendo na semana passada, em que votou maciçamente a favor de permanecer britânico.
"Houve uma situação muito difícil em 1978, quando Argentina e Chile quase entraram em guerra, e depois João Paulo II interveio e ajudou a aproximar os dois países", disse Cristina a jornalistas e acrescentou: "Agora a situação é diferente porque a Grã-Bretanha e a Argentina são dois países democráticos com governos eleitos pelo povo. A única coisa que pedimos é que possamos sentar e negociar".
História do conflito
A Argentina fica 500 quilômetros a oeste das ilhas, que tem reivindicado por quase 200 anos. Em 1982, a Argentina invadiu o local, mas foi repelida após uma guerra de 74 dias com a Grã-Bretanha.
Cristina e seu falecido marido e antecessor como presidente, Nestor Kirchner, tem postura de posse do território, assim como tiveram uma relação fria com Bergoglio. Alguns analistas afirmam que a eleição surpresa do cardeal como papa na semana passada, quando ele não foi sequer mencionado nas listas dedos favoritos, tinha incomodado Cristina, que agora quer consertar laços com a Igreja Católica.
Mudanças são esperadas
Na Argentina, os compatriotas de Francisco estão orgulhosos do fato de o novo papa ser argentino, mas esperam mudanças na Igreja Católica, como aceitar o uso de anticoncepcionais e a homossexualidade, segundo uma pesquisada realizada pela consultora Ibarômetro. Entre os ouvidos, 54,2% manifestaram orgulho pela escolha de Bergoglio, mas pedem mudanças significativas na Igreja, como permitir o uso de preservativos (82,7%) e a homossexualidade (59,7%).
"O interessante (na pesquisa) é ver como a reação favorável à escolha do Papa convive com a expectativa de mudança, o que implica uma visão crítica sobre a Igreja",declarou à AFP o sociólogo Ignacio Ramírez, responsável pela pesquisa de opinião.
Dilma defende opções
Presente para a missa que marca o papado, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou ontem, em Roma, que o mundo pede que "as opções diferenciadas" das pessoas sejam compreendidas. Ela afirmou que a iniciativa do papa de dar atenção aos pobres "é uma postura importante". Dilma deve encontrar-se com o papa antes de retornar para conversar sobre a Jornada Mundial da Juventude, que será realizada em julho no Rio.
Vaticano prepara missa inaugural
Cidade do Vaticano. Delegações de mais de 130 países estarão presentes à missa solene que marcará amanhã o início do pontificado do papa Francisco, que acontece na manhã de hoje. Para isso, o Vaticano se prepara para a celebração, a qual deve iniciar às 9h30min (5h30min no horário de Brasília). A chegada de mais de 30 chefes de Estado, além de representantes de outras nações, confissões e personalidades também é considerada.
Além dos 30 chefes de estados já confirmados para a primeira missa de Francisco, o ´papa´ dos cristãos ortodoxos também estará presente Foto: Reuters
Por se tratar do primeiro papa latino-americano da história, haverá uma grande presença de líderes da região. Além de Cristina Kirchner, estarão presentes a presidente brasileira, Dilma Rousseff, o mexicano, Enrique Peña Nieto, e o chileno, Sebastián Piñera, entre outros chefes de Estado e de governo de países latino-americanos.
A cerimônia
Antes da cerimônia, o papa passeará a bordo do papamóvel pela Praça São Pedro para saudar dezenas de milhares de fiéis esperados para a missa.
A cerimônia terá início com Francisco e os patriarcas católicos do oriente rezando perante a tumba do apóstolo Pedro na Basílica de São Pedro. A seguir, eles sairão em procissão.
Francisco receberá então o Anel do Pescador e também será depositado sobre os ombros do novo pontífice o pálio branco com cinco cruzes vermelhas feito de lã de carneiro.
Novidades
O papa determinou que a missa será encurtada e rezada em grego e não em Latim. Dentro das inovações do novo pontífice também está a escolha da prata para a feitura do anel de Pedro.
Durante a celebração, seis cardeais farão uma promessa de obediência e, pela primeira vez desde o cisma de 1.054, o ´papa´ dos cristão ortodoxos, Bartolomeu I, estará presente.
Cruz de ferro x cruz de ouro
A indumentária usada pelo novo papa também vem chamando atenção. Desta vez, a cruz que ele carrega no peito foi o alvo. É a mesma que usa desde quando foi proclamado bispo em Buenos Aires e, segundo os mais próximos, ele nunca mudou ao longo da trajetória como arcebispo. O antecessor, Bento XVI, seguiu a tradição quando eleito e usou a cruz de ouro nas cerimônias.
ONU´Igreja é fundamental no combate à fome´
O diretor-geral da ONU para a Agricultura e Alimentação, o brasileiro José Graziano, elogiou o papa Francisco ao defender o combate à pobreza como prioridade. Segundo José Graziano, a parceria da igreja católica com os governos e as entidades privadas é essencial para acabar com a fome no mundo.
´Vatileaks´Papa ainda não deve ter lido relatório
O papa já tem acesso ao relatório secreto sobre um escândalo que abalou a Igreja Católica no ano passado, mas provavelmente ainda não o leu, disse o Vaticano ontem. O relatório diz respeito ao caso conhecido como "Vatileaks", foi escrito a pedido de Bento XVI, o qual disse que só o sucessor dele leria o texto.
Brasão homenageia Jesus, Maria e José
O Vaticano divulgou ontem o brasão do papa Francisco. O lema é: "Com misericórdia o chamou", inscrito em latim, referindo-se à sua eleição. O porta-voz do Vaticano afirmou que o brasão é "simples" e simboliza Jesus, Maria e José. No topo, está o emblema da ordem de origem do papa: a Companhia de Jesus, um sol brilhando com as letras em vermelho IHS - o monograma do nome de Jesus Cristo.
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