Publicado em 11/02/13 às 11h27
Com o maior País católico do mundo só querendo saber de Carnaval, o papa Bento 16 não escolheu o melhor dia para anunciar a sua renúncia nesta segunda-feira, em meio aos folguedos de momo. Poderia pelo menos ter esperado a Quarta-Feira de Cinzas.
Quando comentei a notícia com os amigos, lembrando que uma renúncia papal não acontecia há 600 anos, ninguém me deu muita bola. Em outros tempos, um fato desses causaria comoção mundial e não se falaria de outro assunto, mas o próprio Bento 16, nos seus oito anos de papado, tratou de esvaziar o papel da Igreja Católica, levando-a de volta à sacristia, sem se importar com a diminuição de seu rebanho, inclusive no Brasil.
O cardeal alemão Joseph Ratzinger não era propriamente uma figura carismática, como seu antecessor, João Paulo 2º, o polonês Karol Wojtyla, que deu início à guinada conservadora da Igreja Católica, retrocedendo ao período anterior ao Concílio Vaticano 2º promovido por João 23.
Ao anunciar sua renúncia, Bento 16 atribuiu sua decisão a problemas de saúde e à idade avançada, alegando que não tem mais forças para continuar no cargo. Nos próximos dias e semanas, porém, os vaticanólogos se dedicarão a descobrir outras razões para esse gesto extremo. Desapego ao poder certamente não foi, já que Ratzinger lutou muito dentro do Vaticano para ser eleito em 2005.
Na época em que a Igreja Católica ainda preservava seu poder de influência nos destinos do mundo, no final dos anos 70 do século passado, quando era correspondente do Jornal do Brasil na Europa, fiz a cobertura das mortes dos papas Paulo 6º e João Paulo 1º e a eleição dos seus respectivos sucessores, João Paulo 1º, que morreu um mês depois, e João Paulo 2º.
"Il Papa è morto". Tomei um susto quando vi esta manchete nas bancas de Turim e a cidade vazia e silenciosa em pleno dia de semana. Ao seguir viagem, parecia que a Itália inteira estava de luto.
Junto com meu colega Araújo Neto, competentíssimo correspondente do jornal em Roma e um especialista em assuntos do Vaticano, e concorrendo com centenas de jornalistas vindos do mundo inteiro, passei semanas tentando entender como funciona a engrenagem de poder que elege um Papa.
Havia uma lista de favoritos, mas acabou sendo eleito o singelo cardeal de Veneza, dom Albino Luciani, de quem ninguém falava. Agora, até o momento em que escrevo, apareceu apenas um nome, o do italiano Angelo Scola, 72, arcebispo de Milão. Seja quem for o escolhido, certamente Bento 16 terá forte influência sobre a eleição do próximo Papa, já que ele montou o colégio de cardeais à sua imagem e semelhança.
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