Uma breve retrospectiva no aniversário do brasileiro mais importante dos quadrinhos dos EUA
Érico Assis
24 de Maio de 2013
24 de Maio de 2013
Nesta semana, o paraibano Deodato Taumaturgo Borges Filho completou 50 anos. Nos últimos vinte, porém, ele é mais conhecido por outro nome: Mike Deodato. É a alcunha com a qual o desenhista se apresentou ao mercado dos EUA, que provavelmente teria dificuldade para pronunciar "Taumaturgo". A estratégia deu certo: hoje, Deodato é um quadrinista requisitado e com fama mundial.
Como diz o nome, Deodato é filho de outro Deodato Borges - o primeiro quadrinista do nordeste brasileiro, que publicou ainda na década de 1960. Com essa influência, "Júnior" começou a desenhar desde cedo, lançou suas próprias HQs e fez colaborações profissionais com o pai, como A História da Paraíba em Quadrinhos. Os dois chegaram a participar do Festival d'Angoulême no final da década de 1980 com seus primeiros trabalhos.
Deodato começou a colaborar com o mercado dos EUA no início da década de 1990. Seu nome - assinava Mike Deodato Jr., ainda para lembrar do pai - ficou conhecido quando virou desenhista regular da HQ da Mulher-Maravilha. É inegável que a série ganhou impulso nas vendas por conta das formas "abrasileiradas" que o desenhista deu às amazonas.
O brasileiro ficou marcado como "desenhista das beldades", bem na época em que os quadrinhos dos EUA passavam pela febre das bad girls. Elektra virou musa entre as malvadas no seu traço - e os fãs devotos reclamaram que ela ficou muito sensual. Deviam ter chamado outro desenhista...
Apesar da fama relacionada às formas femininas, Deodato também desenhou parrudões comoThor. Foi sua primeira colaboração com o britânico Warren Ellis, de cujos roteiros ainda diz sentir saudade.
Foi por essa época, no começo da segunda metade dos anos 1990, que Deodato começou a ser chamado para tudo: Vingadores, Hulk, Glory, Lady Death, Ultraforce, Batman. Ele literalmente se dividiu em vários: se as editoras dos EUA pediam Deodato, o agente passava outro brasileiro que desenhasse parecido e, para esconder um pouco a manobra, pedia que o crédito ficasse com "Deodato Studios". Mesmo com ajuda, o desenhista ficou sobrecarregado e reconhece que a qualidade de seu trabalho sofreu bastante na época.
No início dos anos 2000, Deodato entrou em nova fase. Com desenhos mais realistas, em alto contraste, usando de referência fotos suas ou de atores de Hollywood, o desenhista teve fases elogiadas com Hulk - uma capa sua foi até copiada na divulgação do filme - e Homem-Aranha, na qual Tommy Lee Jones emprestou o rosto a Norman Osborn. O vilão acabaria acompanhando Deodato por um bom tempo.
Em 2007, a reformulação dos Thunderbolts - a equipe de vilões agora ficaria sob comando de Norman Osborn - foi a nova oportunidade para Deodato trabalhar com Warren Ellis. O ano que a dupla passou em Thunderbolts é até hoje considerado o ponto alto da série.
De Thunderbolts, Deodato passou para os Vingadores quando a franquia estava (e ainda está) no auge. Trabalhou nas séries principais, ajudou a lançar Vingadores Sombrios (com os ex-Thunderbolts) e Vingadores Secretos. O brasileiro virou um dos grandes colaboradores de Brian Michael Bendis, o roteirista que comandou os Vingadores nesse período de alta. Mesmo com a saída de Bendis, o brasileiro segue desenhando Capitão América e Cia. até hoje.
Exclusivo da Marvel Comics há mais de dez anos, Deodato até já ganhou uma homenagem montada pela editora: o livrão de capa dura The Marvel Art of Mike Deodato reuniu mais de 200 páginas sobre sua carreira.
Com a tranquilidade da reputação que tem pelo mundo, Deodato está começando a alçar outros voos. Um deles é A Arte Cartum de Mike Deodato, livro que reúne tiras num estilo totalmente distinto a que os leitores estão acostumados - e no qual ele pode mostrar seu bom humor. O livro surgiu de um projeto de crowdfunding financiado em menos de 48 horas pelos fãs.
E estes foram só alguns destaques dos últimos tempos. Aguardamos ansiosamente os próximos 50 anos. Feliz aniversário, Deodato!
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