15/11/2015
França acabou com proibição, já abolida no Brasil desde 2013. Mas, nos dois países, homens gays precisam passar 12 meses sem sexo para sangue ser aceito. Restrição é polêmica
DEIVYSON TEIXEIRA, EM 27/7/2013
Cotidiano
A partir do ano que vem, entra em vigor na França a regra que já existe no Brasil sobre a doação de sangue por homossexuais. No começo do mês, o governo francês anunciou o fim da proibição. Porém, é mantida restrição que também existe no Brasil: só pode ser doador quem não manteve relação sexual com pessoas do mesmo sexo nos 12 meses anteriores.
A restrição gera protestos dos que afirmam que a orientação sexual não é critério para possuir ou não doenças sexualmente transmissíveis.
No Brasil, a determinação consta na portaria 2712, de 2013. Pela norma, é considerado “inapto temporário” à doação homem que tenha feito sexo com outro homem nos 12 meses anteriores. A norma não faz referência a mulheres que tenham mantido relacionamentos homossexuais.
Na França, será permitida a doação também por homens que, nos últimos quatro meses, tenham mantido apenas um parceiro gay. Nesses casos, o plasma permanecerá em isolamento durante cerca de dois meses e meio, para garantir que é seguro.
O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) diz não haver preconceito e informa usar critérios baseados na portaria, com fundamentação em evidências epidemiológicas.
Justificativa
O infectologista Anastácio de Queiroz diz que a maior incidência de doenças sexualmente transmissíveis está entre os homossexuais e que o doador que tem um relacionamento estável não pode garantir que o seu parceiro não esteja infectado. Ele também afirma que, no caso de o doador estar no início do processo infeccioso, nem os exames mais qualificados detectam a patologia. “O olhar deve estar voltado para o receptor do sangue”, disse o médico, que considera importante o compromisso com a verdade na resposta ao questionário, antes da doação.
O estudante de jornalismo e editor do Fortaleza de Todas (Instagram LGBT), Gustavo Freitas, 22, pondera que heterossexuais também não podem garantir a saúde do seu parceiro e que a restrição deveria, então, ser aplicada a todos. “O que vale é a análise do sangue, e não a orientação afetiva”, afirmou Gustavo, que considera preconceituosa a justificativa da determinação.
O psicólogo Levi Costa, 25, conta que, anos atrás, tentou doar, mas foi impedido por causa da sua orientação sexual. Recentemente, quis fazer doação a jovem com leucemia. Mas, como tem um relacionamento homossexual, lembrou que não poderia contribuir. “O fato de ser homossexual já exclui a pessoa do processo, devido à incapacitação dos profissionais para receber o público LGBT”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário