18/07/2015
A posição do presidente não foi acompanhada pelo partido, que emitiu nota garantindo manutenção da base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT). Parlamentares peemedebistas acentuaram a decisão "pessoal" de Cunha
WILSON DIAS/ AGÊNCIA BRASIL
Cunha é eleito presidente da Câmara em fevereiro e se torna peça chave no xadrez da política nacional
Em um primeiro momento, isolamento é a condição do atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), perante grande parte de aliados no PMDB. Após pouco mais de seis meses como o terceiro homem mais poderoso na linha sucessória presidencial, a figura de “independência” e de enfrentamento com o Palácio do Planalto se transformou em um momento novo e surpreendente em que o peemedebista, pela primeira vez, pode conhecer o lado difícil da fragilidade política no posto que ocupa.
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A avaliação foi feita pelo líder de um partido da oposição na Câmara, em condição de anonimato, ao O POVO, afirmando que o presidente se coloca de forma inédita em uma situação de fragilidade na Casa. As investigações em torno da Operação Lava Jato, que têm o nome do peemedebista como um dos citados nas delações, são um dos fatores decisivos para o enfraquecimento de Cunha. “Obviamente as denúncias enfraquecem o presidente na Casa”.
Para Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado, o partido “é liberal, aceita a divergência e respeita a posição de Cunha, mas não endossa. Ele tomou uma decisão pessoal”. Apesar de afirmar que a decisão do presidente não é a do partido, o senador garantiu que a legenda terá candidatura própria à presidência da República em 2018 e que deverá romper a aliança com o PT antes do fim do mandato da presidente Dilma. “A relação se desgastou em 2014. Obviamente vai haver o afastamento da aliança antes das eleições”.
O deputado federal Danilo forte (PMDB), integrante da ala de Cunha, avalia que houve uma precipitação por parte do presidente ao declarar em coletiva de imprensa que deixa a base governista da presidente Dilma Rousseff (PT) fazendo críticas ao processo de investigação na Operação Lava Jato. “Precipitou-se, não é com bravata que vai resolver o problema. A melhor defesa é provar que não houve nenhuma negociação”.
Após as declarações de ruptura, a única voz de apoio ao deputado saiu de um outro partido da oposição, o deputado Paulinho da Força (SD). “Nada mais correto do que se afastar de um governo trapalhão”, afirmou por meio de nota. Já o líder do governo, José Guimarães (PT), declarou que a relação do governo com o partido é institucional e será preservada “para o bem do Brasil”. Em relação a Cunha, disse que o governo espera que seja pautada pelos “princípios da imparcialidade”.
O PMDB, através do seu líder na Câmara, Leonardo Piciani, emitiu nota afirmando que a decisão do presidente da Casa é de cunho pessoal e que a bancada deverá se reunir após o recesso para discutir seu posicionamento.
Saiba mais
A primeira derrota imposta por Cunha ao governo se deu no início do ano com sua vitória para a presidência da Câmara ao derrotar o petista Arlindo Chinaglia. Vitorioso por ampla maioria, o deputado carioca defendia “independência” da Casa em relação ao Planalto.
Eduardo impôs outra derrota ao governo aprovando a chamada “PEC da Bengala”, que teve o objetivo de impedir que a presidente Dilma Rousseff indicasse cinco ministros para o STF (Supremo Tribunal Federal) que se aposentariam no seu mandato.
Após sofrer derrota, Cunha conseguiu reverter a situação votando no dia seguinte o financiamento privado das campanhas eleitorais. O governo foi derrotado sucessivas vezes em vários pontos que remetiam à reforma política.
Enfrentamento entre Eduardo Cunha e Cid Gomes, no episódio “achacadores”, rendeu a demissão do então ministro da Educação e ex-governador cearense. Na ocasião, com amplo poder no partido, o PMDB havia ameaçado deixar a base governista se Cid permanecesse no cargo.
Em mais uma manobra de Cunha, o governo Federal foi mais uma vez derrotado durante a votação da maioridade penal. Defendendo reformulações do ECA e a manutenção da idade penal em 16 anos, o PT se viu isolado na votação e foi derrotado com a aliança do PMDB com o PSDB. Apesar de vitória da oposição, o texto ainda deverá ser apreciado pelo Senado.
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