11/12/2015 - 17h25
O POVO Online entrevistou Valter Fonseca dos Santos, que após viver nas ruas de Patos de Minas (MG) por 16 anos, foi aprovado em concurso público, em 1º lugar
SELMA CRUZ / PREFEITURA DE PATOS DE MINAS
Após dormir nas ruas por 16 anos, um homem passou, em 1º lugar, em um concurso público da Prefeitura de Patos de Minas (MG). Valter Fonseca dos Santos, de 41 anos, disputou a vaga de coveiro com outros 21 concorrentes. Ele saiu de Ilhéus, na Bahia, na tentativa de melhorar de vida no município de Patos. Após muitas dificuldades, ele garante que o primeiro salário vai custear sua moradia.
Valter Fonseca contou ao O POVO Online, por telefone, que viajou de cidade em cidade, até chegar a Patos de Minas. O fator determinante para a mudança, segundo o mais novo servidor público, foi a dificuldade de sobreviver na Bahia. "Eu trabalhava com pintura de painéis de candidatos políticos. Com a chegada das empresas de publicidade, eu tive que desistir porque estava passando fome. A pintura perdeu o valor", relatou. As "decepções amorosas" que viveu em Ilhéus também influenciaram.
Ao chegar em Minas Gerais, Valter viveu de "bicos", serviços curtos e sem vínculo empregatício. "No início, arrumei um bico em uma padaria por intermédio de um colega. Depois trabalhei capinando quintais, fiz faxina - trabalhei muito tempo em casa de família", contou o ilheense, que também trabalhou como carregador de bagagens de uma rodoviária.
Em 2013, Valter teve seu primeiro contato com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), uma instituição governamental que busca pessoas em situação de rua que precisam ser encaminhadas para sua cidade de origem. No Creas, ele teve seu currículo atualizado e encaminhado para diversas empresas. "Fiz cinco entrevistas, mas quando chegava lá e contava a verdade sobre minha situação, eles não me chamavam de volta".
No início deste ano, Valter fez a inscrição para o concurso público da Prefeitura de Patos de Minas, incentivado pela diretora de proteção social do Creas, Maria Augusta de Lacerda Ferreira. "Ela me falou da vaga e disse: 'eu quero você em 1º lugar'. Escolhi a vaga, mas aceitei com medo. Meus estudos eram alternados com a faxina que fazia em um restaurante. Eu fazia a faxina e quando terminava ia para a cadeira estudar, mas acabava dormindo porque quando a gente dorme na rua a noite é mal dormida", explicou Valter, que também estudava nas ruas, em banco de praças.
Maria Augusta de Lacerda conta que conhecia um pouco da história de Valter a cada visita dele ao Creas. "Ele tem bom conhecimento de mundo. Acho ele muito forte no sentido de viver tudo o que já viveu. Você não o vê triste", afirmou a diretora de proteção social ao O POVO Online. Segundo Maria Augusta, Valter estudou também pelas provas de concursos anteriores.
Valter contou que nunca teve residência própria. "Eu vivi a exclusão social mesmo, pedindo, morando nas ruas. E meu sonho é ter uma moradia minha, não quero depender de outra pessoa".
Mesmo com o mérito próprio, ele afirmou que fica feliz pela conquista, mas diz que demorou para acontecer. "Não vou mais depender de ninguém, por isso fico feliz. E o primeiro salário vai para uma habitação. Quero pagar aluguel de uma casa, abrir uma poupança", continuou. "Deus me deu a oportunidade de sair das ruas, e por tudo que passei, me sinto no dever de ajudar ao próximo".
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