02/04/2016
A medida foi tomada pela USP porque o único funcionário responsável por sintetizar a molécula foi deslocado temporariamente para outro laboratório
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A síntese do elemento químico usado na pílula é estudada há 20 anos pelo pesquisador Gilberto Chierice
O laboratório do IQSC-USP (Instituto de Química de São Carlos, da USP) no qual estava sendo produzida a fosfoetanolamina, suposta “pílula do câncer”, foi fechado ontem. A medida foi tomada pela universidade porque o único funcionário responsável por sintetizar a molécula foi deslocado temporariamente para um laboratório de Cravinhos (SP), onde serão produzidas remessas das pílulas que servirão para testes preliminares de sua eficácia em seres humanos.
Apenas três pessoas conheceriam bem o processo de produção da “fosfo”, como ficou conhecida a substância: o químico Gilberto Chierice, hoje professor aposentado do IQSC e coordenador dos estudos sobre o tema, e dois técnicos que trabalhavam com ele. Um deles aderiu ao programa de demissões voluntárias da USP e não está mais na universidade.
O outro, Salvador Claro Neto, que fez seu doutorado em química sob orientação de Chierice, era o responsável por abastecer a demanda pela molécula gerada pela onda de decisões judiciais que surgiu a partir do ano passado. Diversas liminares passaram a determinar que a USP fornecesse a “fosfo” a pacientes com câncer, mesmo sem dados científicos que corroborassem sua eficácia e segurança como medicamento contra a doença.
Desde então, tanto o governo federal quanto o do Estado de São Paulo se mobilizaram para tentar testar cientificamente a ação da pílula. O governo paulista determinou que o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) conduzisse ensaios clínicos com a molécula num grupo inicial de dez pacientes humanos, que poderá ser ampliado caso haja bons resultados.
Para que esses testes possam começar, a Secretaria de Saúde de São Paulo remanejou Claro Neto temporariamente para o laboratório PDT Pharma, em Cravinhos, que ficará responsável por produzir a “fosfo” utilizada nos ensaios clínicos. Segundo a assistência técnico-administrativa do IQSC, depois que o químico auxiliar o laboratório nesse processo, poderá voltar a produzir a molécula em São Carlos.
Em entrevista à EPTV, afiliada da Rede Globo no interior do Estado, Claro Neto declarou que deverá passar cerca de um mês fora de São Carlos. “Nós estamos num vácuo. (A ida para Cravinhos equivale a) parar de fazer para 400 pessoas para fazer para 13 mil”, disse ele.
Impurezas
Enquanto isso, porém, a USP não está mais cumprindo as ordens judiciais de fornecer as pílulas aos pacientes. Isso fez com que doentes, seus advogados e familiares tentassem obter a “fosfo” indo diretamente ao laboratório do IQSC nos últimos dias, sem sucesso.
Embora Chierice tenha afirmado que o método de produção das pílulas desenvolvido por seu grupo permite obter a “fosfo” com “altíssimo grau de pureza”, não foi isso o que mostraram avaliações independentes das pílulas, realizadas por pesquisadores da Unicamp a pedido do governo federal. (agências de notícias)
Saiba mais
Em nota, a USP afirma que a produção da fosfoetanolamina era feita por um técnico (Salvador Claro Neto), que foi cedido para o Estado pra auxiliar na produção da droga para pesquisas sobre sua suposta eficácia. Sem o aval dos detentores da patente, o pesquisador Gilberto Chierice e Claro Neto, a USP estaria incorrendo em crime contra patente ou invenção (artigo 183 da Lei Federal n. 9279/96). "Por fim, ressaltamos que a USP não é uma indústria química ou farmacêutica e que não tem condições de produzir a substância em larga escala", diz a nota.
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