24/04/2016
Apesar de a Anatel ter suspendido por tempo indeterminado, o limite de consumo ronda a internet fixa. Pacotes oferecidos são pequenos para perfil do brasileiro
JÚLIO CAESAR/ESPECIAL PARA O POVO
Na casa da arquiteta Marcela Brasileiro todo mundo é hiperconectado. No celular, computador ou no tablet, é por meio da internet que ela se atualiza sobre as novidades do mercado de trabalho, se informa sobre o que acontece no mundo, assiste a vídeos, filmes ou lê as revistas de arquitetura que tanto gosta. Também tem boa parte dos seus arquivos pesados em nuvem, o que exige uma série de uploads e downloads por dia e, por meio do Whatsapp, controla a rotina da casa e dos filhos quando está no trabalho. A filha dela, Valentina, de 13 anos, quando não está na escola, passa o dia assistindo séries, baixando música ou nas redes sociais com as amigas. E o filho, Leonardo, de 11 anos, é fã de jogos online.
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Todos conectados a maior parte do tempo no wi-fi da casa. Hábitos que podem sofrer mudanças drásticas se a operadora limitar o uso de dados. Por enquanto, este limite está suspenso por tempo indeterminado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Na última sexta-feira, o órgão proibiu as operadoras de internet fixa de reduzir velocidade ou suspender o serviço de banda larga fixa após o término da franquia até que o Conselho da Agência julgue o caso.
Encaixar tudo o que se faz na banda larga ilimitada dentro de um plano com entre 80 GB e 130 GB - média anunciada pelas grandes operadoras - vai ser muito difícil para maioria das famílias brasileiras, avalia Pedro Prudêncio, consultor da Morphus, especializada em segurança na internet. “Para boa parte dos usuários, a capacidade não vai durar uma semana”.
Ele dá como exemplo o uso do Netflix. Para assistir um filme com duas horas de duração, o usuário gasta, em média, 6GB. Se a pessoa costuma assistir pelo menos um filme por dia, ao fim do mês, lá se foram 180 GB. E se este consumidor é mais exigente e gosta de assistir aos vídeos em ultra definição são gastos 7GB por hora“.
Até então a grande determinante dos planos de internet fixa era a velocidade. Mas o fato dos principais players do mercado, como NET, OI e Vivo passarem a incluir em seus contratos a possibilidade de limitação do uso de dados – o que é previsto pela regulamentação do setor – a questão passou a ser alvo de muitas críticas e ações judiciais.
Orçamento
Em tempos de orçamentos mais apertados, o sistema de franquias vai exigir mudança de hábitos. “É um absurdo quererem impor esta limitação também para fixa. A franquia do celular mal dá para usar as redes sociais e o GPS, em casa então, vai ser bem complicado. Não vai afetar só o lazer, afeta o consumo da informação”, afirmou a professora Lívia Rosendo. Hoje ela paga em torno de R$ 80 por mês, mas se a operadora resolver aderir ao sistema, ela diz que dificilmente vai adquirir pacote adicional. “Vai depender do valor do plano, mas acho que o jeito mesmo vai ser diminuir o acesso”.
É o que também prevê Marcela Brasileiro. “Com o Brasil com tanta instabilidade, provavelmente, vou ter que diminuir o consumo”.
Entender os hábitos de consumo para escolher o plano mais adequado ao seu perfil é o que aconselha o professor do grupo de pesquisas em telecomunicações da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rodrigo Cavalcanti. “Realmente esta é uma situação e os consumidores vão ter que se adaptar ou buscar uma operadora concorrente que ainda não faça a limitação”.
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