09/04/2016
O confronto aconteceu na tarde de quinta-feira (7) no acampamento Dom Tomás Balduíno e provocou a morte de dois trabalhadores rurais
JOSÉ CRUZ/ AGÊNCIA BRASIL
Após a morte de dois sem-terra em um confronto com policiais militares em Quedas do Iguaçu, no norte do Paraná, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) diz que vai “vingar” as mortes promovendo novas invasões em áreas da empresa Araupel, que atua com reflorestamento e exportação de madeiras.
O confronto aconteceu na tarde de quinta-feira (7) no acampamento Dom Tomás Balduíno e provocou a morte dos sem-terra Vilmar Bordin, 44, e Leonir Bhorback, 25. A PM diz que foi vítima de uma emboscada, mesmo argumento usado pelos sem-terra.
“A vingança nossa é ocupando o latifúndio, destruindo essa empresa [Araupel] que causa tantos danos”, afirma Antonio de Miranda, porta-voz do movimento na região.
O líder sem-terra rechaçou as declarações da polícia, de que os policiais reagiram ao serem vítimas de uma emboscada. “É a primeira vez que alguém faz uma emboscada e é morto”, disse.
Miranda criticou também as declarações do comandante regional da Polícia Militar, tenente-coronel Washington Lee Abe, que pediu para as “pessoas humildes” deixarem o movimento porque a polícia não irá tolerar retaliações do MST. “É uma visão fascista, anti-social”, declara.
Manifestação
Hoje, às 10 horas, o MST promete realizar uma grande manifestação no centro de Quedas do Iguaçu para cobrar justiça na morte dos dois sem-terra. O movimento promete reunir mais de 10 mil sem-terra de ao menos cinco Estados do Brasil. “Estamos mobilizando pessoas de todos os Estados para cobrar justiça. Não podem ficar em vão as mortes da companheirada”, diz Miranda.
Os corpos dos dois sem-terra foram liberados pelo IML (Instituto Médico Legal) de Cascavel, mas ainda não chegaram ao acampamento. Eles serão velados por aproximadamente três horas no local e posteriormente serão levados às suas cidades de origem.
Resposta
A cúpula da polícia do Paraná apresentou ontem o depoimento em que uma testemunha afirma que os dois sem-terra foram mortos em confronto entre o grupo e PMs após um deles ter dado “um tiro para cima”.
No depoimento, o sem-terra Pedro Francelino afirma que o confronto teve início depois que um dos integrantes do MST “atirou pra cima e um policial revidou”. Ele, que foi baleado no local, falou com os policiais no hospital.
A PM afirmou que só o resultado da perícia apontará a localização dos tiros. Nenhum policial se feriu durante o confronto.
O acampamento do MST reúne cerca de 10 mil pessoas, segundo a Sesp, desde julho de 2014. A área, onde funciona a empresa Araupel, é alvo de disputa judicial - o governo federal pediu a nulidade do título da terra da Araupel, mas o caso está sob julgamento na Justiça Federal.
Parte do interrogatório à Polícia Civil de Pedro Francelino foi divulgado para a imprensa, em áudio e em texto já transcrito. Folhapress)
Saiba mais
Relato
A testemunha foi ouvida ontem no Hospital São Lucas, onde está internado.
No trecho divulgado, o sem terra Pedro Francelino diz que estava no local do crime e que participaria de um protesto organizado pelos sem-terra.
No trecho divulgado, o sem terra Pedro Francelino diz que estava no local do crime e que participaria de um protesto organizado pelos sem-terra.
"Daí chegamos lá, levei foice, que é uma coisa que é ferramenta de trabalho. Chegamos lá um engraçadinho saiu pra fora atirando pra cima e o policial revidou. Foi só isso que aconteceu", afirmou.
O primeiro tiro, disse Francelino, "foi do rapaz que morreu, que entrou em óbito lá, com o revólver na mão".
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