domingo, 27 de janeiro de 2013

Muriçocas infestam a Capital causando transtorno e prejuízo

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com
26.01.2013

Sprays e espirais para espantar mosquitos são contraindicados, pois podem causar intoxicação

Moradores de diversos locais da Cidade estão utilizando ventiladores para repelir os mosquitos, implicando no aumento do consumo de energia FOTO: KELLY FREITAS

Uma consequência direta das chuvas alternadas, da alta temperatura e do acúmulo de água suja é aumento no número de mosquitos Culex, mais conhecidos como muriçocas, em várias áreas da cidade. Quando o relógio marca 18h, moradores de bairros como Aerolândia, Monte Castelo, Papicu, Cocó, Vicente Pinzón e Vila União sabem que os mosquitos vão incomodar.

As muriçocas sempre foram um problema para a dona de casa Nédna Barbosa, que mora no bairro Monte Castelo, próximo ao açude João Lopes. Contudo, nos últimos três meses, a situação piorou. "A gente já não sabe mais o que fazer. Elas estão atacando até de dia. Já tentamos usar veneno, estamos usando ventilador constantemente, mas nada resolve", disse.

Ela mora com a mãe, Judite Augusta Barbosa, de 93 anos e, por conta das picadas dos mosquitos, a idosa teve que ser internada. "Minha mãe se engasgou com leite e tenho quase certeza que foi pela aflição de tanta coceira. Ela estava toda cheia de caroço, fazia pena".

A dona de casa Andrelina Felipe mora no bairro há 20 anos e também sofre com a quantidade de mosquitos. "Tenho três crianças em casa e tenho que passar repelente todos os dias, senão eles ficam cheios de marcas e muitas vezes se ferem. Minha energia está até mais cara, porque a gente não tem como desligar os ventiladores", destaca.

No Bairro de Fátima, o quadro não é diferente. O empresário Jorge Wilson Furtado Miranda tem deixado a casa trancada para evitar que os mosquitos entrem. "De três meses para cá, a gente não abre mais as janelas depois do meio-dia. Neste ano, está demais e não é só aqui. Fui na casa de uns amigos no Papicu e está do mesmo jeito", revela.

Para o empresário, o aumento no número de mosquitos tem relação com a sujeira nos canais do entorno. "Neste ano, não vimos se o canal da Aguanambi foi limpo e tem muito mato no Parreão, aqui próximo à rodoviária", explica.

Na Aerolândia, a dona de casa Jucilene Linhares se surpreendeu com a quantidade de muriçocas nos últimos três meses. "Aqui, não tinha muriçoca de jeito nenhum mas, de três meses para cá, a gente não consegue mais dormir de noite e elas atacam até de dia", reclama.

Ventilador
Para prevenir as picadas, Jucilene está com os ventiladores ligados de dia e à noite e comprou mais um aparelho. "O meu filho trabalha à noite e, para ele dormir, a gente deixa os ventiladores ligados de dia também. O problema é que a conta de energia está mais cara. Estamos pagando R$12 a mais, por causa dos aparelhos novos".

Em virtude do uso dos ventiladores, Jucilene contraiu uma alergia. "Ainda não sei o que é, mas todos os dias eu acordo espirrando muito e com os olhos vermelhos. Talvez seja porque antes não tinha o costume de usar ventilador. Eu não gostava", enfatiza.

A mãe de Jucilene, Rita de Cássia Marques, de 71 anos, também se queixa por não conseguir mais dormir. "Com o ventilador, elas não mordem no rosto, mas as pernas e os pés estão vermelhos de tantas picadas". Na casa da nora de Jucilene, que também mora na Aerolândia, além dos ventiladores, também estão usando o véu e repelente. "De tardezinha, o véu chega é preto de tanta muriçoca".

Prejuízos
Há mais de 20 anos, o comerciante Antônio das Chagas Campos trabalha no Parque do Cocó, próximo à Rua Andrade Furtado, e nunca tinha presenciado tantos problemas com muriçocas. Hoje, ele é obrigado a fechar o seu comercio às 18h devido aos mosquitos. "Faz mais de um mês que esse problema começou. Todo mundo que passa por aqui é picado. Estou tendo prejuízos, porque os meus clientes não aguentam mais", frisou.

Agora, a expectativa de Campos é que a Prefeitura faça algo para amenizar a situação, pois ele e seus clientes já fizeram tudo que podiam.

No Posto de Combustível, localizado no cruzamento das avenidas Padre Antônio Tomás e Sebastião de Abreu, os funcionários já não aguentam mais ser atacados pelas muriçocas diversas vezes todos os dias. "Temos sorte, porque o nosso chefe comprou repelente para que possamos passar no corpo. Sem isso, a situação estava insuportável", diz a atendente Ivanei Matos.

Para o professor do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor) e da Universidade Estadual do Ceará (Uece), dermatologista René Freire, é importante prevenir as picadas do que tratar as lesões. "Uma mordida de inseto pode ser mais séria do que parece. Em alguns casos, o tratamento é feito com pomadas à base de corticoides".

René Freire ainda chama a atenção para os produtos que prometem exterminar o inseto. "Sprays e espirais para espantar mosquitos são contraindicados porque podem causar intoxicação e até doenças hematológicas. O ideal é usar repelentes e, no máximo, reaplicá-los três vezes ao dia", sugere.

A assessoria de comunicação da Prefeitura informou que combater muriçocas não é uma das atribuições do órgão e que o surgimento delas nessa época é devido à mudança climática.

KELLY GARCIA/ THIAGO ROCHA
REPÓRTERES

Nenhum comentário:

Postar um comentário