domingo, 27 de maio de 2012

Uma geração com futuro incerto

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com
27.05.2012
Na Europa, em crise, e no Brasil, em desenvolvimento, jovens vivem realidades aparentemente opostas quanto ao mercado de trabalho, enquanto compartilham incertezas semelhantes, as quais se refletem no pessimismo quanto a um futuro sem hora para chegar


Juventude almeja porta aberta para o trabalho
Na Região Metropolitana da Capital, 21% das pessoas que procuram emprego têm entre 16 e 24 anos

Em uma espera que pode chegar a durar horas, dezenas de jovens aguardam, a cada dia, na recepção da unidade central do Sine/IDT, a vez de serem chamados e poderem ter algum retorno sobre suas expectativas. O tempo empregado na recepção, onde frequentemente as cadeiras não são suficientes para acomodar o número expressivo de pessoas, reflete uma espera maior, que muitas vezes se estende por semanas ou meses. Ao mesmo tempo em que aguardam serem chamados, anseiam a abertura de uma porta que não conseguem mover sozinhos - o ingresso no mercado de trabalho.

Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), segundo a edição mais recente da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), 21,1% das pessoas entre 16 e 24 anos estavam à procura de trabalho em março deste ano. O levantamento também mostra que, do total de desempregados da RMF, no mesmo período, 49,7% era composto por pessoas dessa faixa etária.

Entre abril de 2011 e março de 2012, a taxa de desemprego dos jovens de 16 a 24 anos ampliou-se mais que a dos adultos, passando de 19,2% para 21,1%. No caso dos adultos, a taxa reduziu de 8,8% para 8,4%.

Reflexo
Conforme o coordenador da PED no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ediran Teixeira, os dados refletem a maior pressão que os jovens têm exercido sobre o mercado de trabalho, o qual, por diversos motivos, tende a privilegiar outras faixas etárias.

Na RMF, acrescenta, onde a maior parte dos jovens pertence às classes C, D e E, a necessidade financeira é o maior motivador para a busca por emprego a partir dos 15 anos.

Enquanto as empresas apontam, como principal razão para a preferência por pessoas acima dos 24 anos, a falta de qualificação dos mais novos, estes empreendem uma luta contra o tempo para adequarem-se às exigências do mercado.

Exigências
"A primeira coisa que perguntam (em entrevistas de emprego) é se você tem curso superior. Se você não tiver, já fica bem mais difícil", comenta o estudante Anderson Barbosa, de 21 anos um dos centenas de jovens que, na última semana, visitaram unidades do Sine/IDT em busca de uma vaga no mercado.

Paralelo à procura por trabalho, Anderson busca uma forma de iniciar um curso superior de administração. Embora já tenha pesquisado sobre possíveis universidades, ainda não se matriculou em nenhuma por não ter, no momento, como pagar a mensalidade. Em casa, diz, os pais compreendem a dificuldade para conseguir trabalho, mas também fazem pressão para que um emprego seja alcançado o quanto antes.

Mais renda
A necessidade de obter renda também é a motivação de Mallone Araújo, de 21 anos. Até a última semana, ele estagiava em uma empresa de telemarketing, mas se desligou do serviço na busca de um emprego com melhor remuneração.

Dos R$ 680 que recebia do estágio, conta, R$ 180 eram destinados ao pagamento da mensalidade da faculdade de administração que cursa. Quase todo o restante se voltava para despesas como aluguel e alimentação. "No fim do mês, sobram uns 80 reais para comprar roupa ou outra coisa que eu esteja precisando", comenta.

Desafio
Desse modo, configura-se o desafio vivido por milhares de pessoas da RMF - conciliar a qualificação profissional e a necessidade urgente de adquirir renda, fazendo com que, muitas vezes, seja gerado um ciclo vicioso cuja quebra torna-se mais difícil a cada mês que passa.

Diante desse contexto, acentua Ediran, grande parte das pessoas que se encaixam nesse perfil correm o risco de se inserirem em cargos que não proporcionam condições adequadas de trabalho, exigindo do empregado uma jornada excessiva de trabalho e oferecendo uma remuneração inferior à adequada para a posição.

Agravando a situação, complementa, fatores como o stress gerado pelas condições degradantes de trabalho e a necessidade constante de garantir a renda provocam um processo de desgaste que afasta ainda mais o novo trabalhador da ambição de dedicar-se também aos estudos, tornando a perspectiva de real capacitação - assim como a possibilidade de ascender profissionalmente - mais distante.

De acordo com o analista de mercado de trabalho do IDT, Mardônio Costa, além da exigência de qualificação, outro fator responsável pela maior pressão que os jovens exercem sobre o mercado de trabalho é o número crescente de pessoas que, mesmo depois de se aposentar, continuam ocupando postos, o que reduz a oportunidade para os que ingressam na idade adulta. Na RMF, o índice dos trabalhadores de 60 anos ou mais - a maior parte deles já contando com aposentadoria - registrou uma elevação de 13,8% entre dezembro de 2008 e janeiro deste ano.
ENQUETE

Qual a sua expectativa para o 1º emprego?
"Nas entrevistas de emprego, sempre perguntam se você tem curso superior. Se você não tiver, já dificulta muito. Em casa, não sou muito cobrado para ter um emprego, mas sei que tenho que conseguir logo"

Bruno Souza
Estudante

"Hoje, não estou fazendo nenhum curso nem trabalhando, mas espero poder começar a trabalhar logo. Hoje mesmo, vou me matricular na faculdade. Não dá para ficar apenas parado vendo o tempo passar"

Renata Castro
Estudante

"Quero começar a ter alguma renda desde cedo, para poder ajudar em casa e também ter mais independência. Minha intenção é começar a trabalhar a gora e continuar estudando e trabalhando até me formar".

Igor Frota
Estudante
JOÃO MOURAREPÓRTER

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