domingo, 22 de julho de 2012

Polarização e acirramento marcam a disputa na Capital

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/
22.07.2012


Alianças contraditórias e campanhas mais caras são algumas mudanças observadas no cenário político deste ano

Alianças contraditórias, previsão de campanhas mais caras, nenhum candidato à reeleição, aumento do número de postulantes que disputam pela primeira vez a Prefeitura de Fortaleza e crescimento do eleitorado. Essas são as principais mudanças observadas no cenário político atual, em relação à disputa de 2008, em Fortaleza. Diante das diferenças eleitorais e analisando a nova composição dos partidos, cientistas políticos apostam em uma disputa ainda mais polarizada, com grande acirramento entre os candidatos do governador Cid (PSB) e da prefeita Luizianne (PT).

Pelo menos 1.277.447 eleitores, 85% dos que estavam aptos a votar em 2008, foram às urnas para escolher quem deveria assumir a Prefeitura de Fortaleza a partir de janeiro de 2009. Na ocasião, 24 partidos participavam diretamente da disputa eleitoral, dando sustentação a nove candidaturas, quatro delas representando coligações e as outras cinco apoiadas apenas pelos partidos dos próprios titulares. Neste ano, são 1.594.897 eleitores que deverão, no próximo dia 7 de outubro, escolher qual dos dez postulantes a prefeito de Fortaleza merece a confiança para assumir o cargo.

A forma como os partidos políticos estão organizados na eleição desse ano chama atenção. Muitas siglas aliadas em 2008 agora estão em lados opostos, assim como partidos que trocavam mútuas críticas tentam, neste momento, afinar os discursos ao dividirem a mesma coligação. O caso mais emblemático é do PT e do PR, oposicionistas em 2008, quando Adail Barreto (PR) disputava com a prefeita Luizianne Lins (PT).

A petista chegou a conseguir direitos de resposta na propaganda eleitoral televisiva do PR por conta das críticas sofridas pelo candidato do partido que agora é seu aliado. Em sentido inverso, há o caso do PT, PSB e PCdoB. As três agremiações, hoje separadas pelo lançamento de candidaturas próprias na Capital, estavam unidas na última eleição para reeleger Luizianne. Há ainda o caso do PP, que na eleição passada estava coligado com o DEM, apoiando a candidatura de Moroni Torgan. Apesar de o postulante democrata ser o mesmo, o PP decidiu apoiar o candidato do PSB.

Alianças

Conforme Patrícia Teixeira, mestre em Ciências Políticas, as mudanças nas alianças políticas em Fortaleza, nos últimos quatro anos, não só influenciam a disputa de outubro como também revelam o espaço das agremiações estão dispondo em nível local. Ela analisa que o fato de o PT, que está no poder, estar perdendo o apoio de vários aliados, tem motivado a busca de acordos com siglas que antes estavam em lados opostos. "Há uma contradição muito grande (nas coligações deste ano)", afirma.

Em 2008, a maior coligação, formada por doze partidos, apoiava a candidatura de Luizianne (PT, PSB, PCdoB, PMDB, PV, PHS, PMN, PSL, PTN, PRB, PTdoB, PSDC), sendo que a petista também detinha o apoio de grandes partidos na Capital. A segunda maior coligação era composta por quatro partidos (PDT, PTB, PSDB e PDT), seguida pela aliança entre PP e DEM e pela coligação do PSOL e PSTU.

Rompimento

"Naquele momento, PT estava muito forte, alavancado pela gestão do Lula. Hoje, perde espaço", analisa Patrícia Teixeira. Isso porque, segundo a cientista política, apesar da presidente Dilma (PT) ser bem avaliada, houve a quebra de aliança com o PSB do governador Cid. Nesse sentido, o cientista político Josênio Parente lembra que houve a expectativa de que não haveria esse rompimento por conta da aliança nacional, mas acontece que surgiu um novo projeto regional que o PSB está assumindo. "Quebrou esse esquema e aí pulverizou e aumentou o numero de candidatos", afirma.

Apesar das dez candidaturas postas, Josênio Parente avalia que apenas alguns têm chance real de vencer ou influenciar a disputa. "Essa fragmentação não afeta aquele esquema tradicional de no máximo três ou quatro candidatos e o restante apenas para fortalecer os partidos no quadro político", avalia. O estudioso considera que essa eleição será atípica por conta do acirramento entre os candidatos apoiados por Cid e Luizianne. "O governador e a prefeita estão fazendo de tudo para mostrar que o seu grupo político vai sobreviver e o do outro vai acabar", considera o professor.

Prejuízos
Esse forte acirramento entre forças políticas locais, embora não seja novidade na política, causa prejuízos para a debate eleitoral. "Isso prejudica bastante a proposição de ideias, as discussões das prioridades. A disputa passa a ser de forças concentradas em determinados grupos. Vai continuar o de sempre: debates vazios e guerrilha de poder que não leva a nada", analisa Patrícia Teixeira.

Outra diferença do pleito deste ano é em relação aos gastos previstos pelos candidatos. Enquanto os nove candidatos a prefeito estimaram gastar R$ 39,7 milhões na campanha de 2008, os dez que estão na disputa deste ano podem injetar até R$ 59 milhões. Apesar dos valores exorbitantes, o valor realmente gasto pelos postulantes na eleição passada foi de R$ 9,7 milhões.

Fragmentação

Apesar da quantidade de candidatos que estão gastando muito nesta campanha, Josênio Parente acredita que isso não vai afetar tanto no resultado eleitoral. "Quem vai disputar mesmo é o Governo e a Prefeitura", afirma, apostando na polarização da disputa. Para ele, diferentemente da eleição passada, há uma grande chance de segundo turno porque a esquerda está dividida e há uma fragmentação das forças políticas nas candidaturas. "A televisão só deve afetar no máximo 20% de pessoas que as vezes vão votar por proposta e por carisma", exemplifica.

Na eleição de 2008, a prefeita Luizianne Lins, que disputava a reeleição, venceu com 50% dos votos válidos. Em segundo lugar, ficou o candidato Moroni Torgan (DEM), que conquistou 25% do eleitorado. Em seguida, ficou Patrícia Saboia (PDT), com 15% e Renato Roseno (PSOL), com 5%. Os candidatos Pastor Neto (PSC), Aguiar Júnior (PTC), Luiz Gastão (PPS), Adail Barreto (PR) e Carlinhos (PCB) tiveram menos de 2% dos votos, cada um.

Desses postulantes, apenas dois disputavam a Prefeitura de Fortaleza pela primeira vez: Patrícia e Aguiar Júnior. Neste ano, são sete os candidatos iniciantes na disputa para assumir o Poder Executivo da Capital.

Apesar disso, Josênio Parente não acredita que o fato de disputarem o cargo pela primeira vez signifique novas ideias para a cidade ou mesmo mais chances de vitória. "Ser conhecido não vai afetar muito porque cada vez mais está ficando importante o esquema partidário. Com um partido de peso, você tem chance de ganhar. Muitos se candidatam pra ficar mais conhecidos e os partidos poderem no segundo turno, negociar melhor os apoios", analisa.

Já a cientista política Patrícia Teixeira pensa diferente: "Acredito que novos nomes (postos neste ano), ainda que atrelados ao poder atual e aos grandes partidos, representa novas ideias e novas caras na política. Agora não sei até que ponto essa questão vai ser expressiva para atingir o objetivo que é chegar à Prefeitura", pondera.

Coligações
Neste ano, foram formadas três coligações. PDT e PPS apoiam Heitor Férrer. Já PRB, PP, PTB, PMDB, PSL, PSDC, PHS, PMN, PSB, PRP, PSD, PTC e PTdoB se uniram para apoiar a candidatura de Roberto Cláudio. Por último, PT, PTN, PSC, PR, PV, PTC e PTdoB tentam eleger Elmano de Freitas (PT). Um fato curioso é que PTC e PTdoB apoiam dois candidatos. Isso aconteceu por conta de divisões internas nesses partidos. A questão ainda será decidida na Justiça Eleitoral.

Além deles, disputam a Prefeitura neste ano Inácio Arruda (PCdoB), Renato Roseno (PSOL), Valdeci Cunha (PRTB), Gonzaga (PSTU), André Ramos (PPL), Marcos Cals (PSDB) e Moroni Torgan (DEM).

BEATRIZ JUCÁREPÓRTER

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