29/05/2016
Pais e filhos têm encontrado no aplicativo WhatsApp a possibilidade de estreitar relações sociais. O POVO lista dicas para que a experiência seja saudável para todos
JULIO CAESAR /ESPECIAL PARA O POVO
Anna Flávia, de 12 anos, "herdou" o smartphone da mãe, Gláucia, e nem consegue quantificar o número de grupos dos quais participa
Elas fofocam sobre as vidas umas das outras, marcam saídas, negociam clandestinamente a cópia do dever de casa, compartilham as músicas do momento, falam (bem ou mal) sobre os pais, entram em confusão. Pode até ser que os tempos, hoje, sejam outros, e que as prosas de corredor de escola se transfigurem em conversas de grupos de WhatsApp, mas criança é criança em qualquer era. No entanto, com a expansão da conectividade, um universo de possibilidades se abre, mesmo, para os pais: unidos no mesmo aplicativo, eles têm, agora, mais chances de trocar informações entre si e monitorar o que os filhos confabulam nas redes.
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Quando permitir aos pequenos o acesso à comunicação mediada pela Internet? Quando o controle das conversas se transforma em invasão de privacidade? Questionamentos como esses desafiam os pais desde o momento em que os filhos pedem para ter o próprio celular com a justificativa de que todos os coleguinhas, hoje, se comunicam por meio dele.
Foi exatamente esse o argumento utilizado por Anna Flávia, 12, para “herdar” o smartphone da mãe, Gláucia Barreto, 33. A garota nem consegue contabilizar quantos grupos de WhatsApp integra atualmente. “Alguns são até desnecessários. Só da turma da escola são dois e com as mesmas pessoas!”, conta, em tom de brincadeira. Os assuntos? Segundo ela, rotina escolar, “crushes” (paqueras) e… “só isso mesmo, bobagem”.
Já a Carol, 13, que é correspondente O POVO, interage mais no grupo destinado aos correspondentes e noutro de amigos. No primeiro, os temas se restringem a novidades e colaborações para o jornal, e, no segundo, “apesar de não ser muito movimentado, é mais sobre como eles (os amigos) estão e quando a gente pode marcar de se encontrar”, disse.
Confiança
Para a neuropsicóloga e psicopedagoga Rosane da Rocha, não é possível determinar uma idade para permitir o acesso ao bate-papo, cabendo a decisão à família, a partir do nível de confiança entre pais e filhos. “A idade cronológica não é a mesma que a mental. Se a gente pudesse deixar para mais tarde, melhor, mas às vezes é uma necessidade tamanha porque, se todo mundo tem, por que ela (a criança) não?”. Além disso, de acordo com a médica, é importante que, uma vez consentido o uso, não haja desrespeito à privacidade.
Tanto Gláucia, mãe da Anna Flávia, quanto Maria Clévia de Andrade, 40, mãe da Carol, confiam plenamente em suas filhas. É por isso que ambas permitem o uso do smartphone pelas meninas. “A gente conversa muito e é muito amiga. Acho até que ela tem mais juízo do que eu”, confessa Clévia. “Ela é uma criança muito responsável e orientada, a gente tem uma conversa muito aberta, mas fico de olho porque sempre existe a maldade do outro. Pornografia, pedofilia… meus medos são esses, não são nem das conversas dela com os amiguinhos”, revela Gláucia.
Inês Vitorino, doutora em Ciências Sociais e coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (Grim) da Universidade Federal do Ceará (UFC), sugere que, para conquistar a confiança dos pais, os filhos demonstrem capacidade de avaliar as consequências de seus atos. Para tanto, ela explica que eles precisam refletir sobre questões como: “por que postar ou não postar determinada informação e/ou foto?”.
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Segundo a especialista Inês Vitorino, da UFC, recentemente, na Finlândia, o acesso aos dispositivos móveis foi proibido devido aos riscos que podem causar à saúde da criança.
Inês Vitorino ressalta que é importante fomentar o debate sobre o uso de celulares por crianças. “Pode ser benéfico e produtivo se no tempo e na medida adequada, com a devida orientação”.
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