domingo, 21 de outubro de 2012

População da zona rural compra água para sobreviver

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com
18.10.2012

A "carroçada d´água", como é chamada pelos moradores, custa R$ 10. São 400 litros, divididos em quatro tambores
O abastecimento precário nas comunidades de Área Verde e Camará, localizadas no município de Aquiraz, é tão antigo que os moradores já perderam a esperança de que um dia o problema será solucionado. Os chafarizes estão lá, mas a água é salobra, imprópria para consumo humano e animal. O cenário de descaso obriga a população a comprar água para sobreviver, gastando o dinheiro que poderia ser destinado à comida.


Todos os dias, carroceiros comercializam água encomendada por pessoas de duas comunidades de Aquiraz que dispõem apenas de água salobra fotos: Kid Júnior
Diariamente, nessas localidades, é possível ver dezenas de carroceiros vendendo água. Eles, que apuram até R$ 40 por dia, buscam o recurso nos chafarizes de Telha, comunidade situada a cerca de três quilômetros. A "carroçada d´água", como é chamada pelos moradores, custa R$ 10. São 400 litros, quatro tambores de cem.

O comércio d´água em Aquiraz é tão organizado que, em um dos chafarizes de Telha, das 6 às 11 horas, só os carroceiros podem usufruir do equipamento. Somente depois desse horário é que as outras pessoas podem se beneficiar. Outro, por exemplo, fica disponível para a população no período da manhã e, aos carroceiros, das14 às 18h. Cada um dos chafarizes possui uma espécie de "dono", que regula os horários de abastecimento.

"A água é regrada, não é toda hora que podemos pegar. Muitos clientes têm que pedir com dois dias de antecedência. A fila é grande, porque a maioria não tem como se descolar até os lugares que têm água", relata Francisco Severino da Silva, de 64 anos, que trabalha como carroceiro há mais de 15 anos. Francisco Severino sai de Água Verde, onde mora, até Telha quatro vezes por dia para buscar água. No vai e vem da carroça, puxada por um burro, apura R$ 40 por dia.

Um de seus clientes é o comerciante José Abreu Maciel, 50. Pelo fato de possuir uma cacimba em sua residência, não comprava água com frequência. Mas, neste ano, devido à seca que atinge o Ceará, teve de optar pelas "carroçadas", já que as águas salgadas dos chafarizes de Área Verde "mata até sapo", como gosta de dizer quem vive naquela comunidade.

Promessas

"Á água só serve para lavar roupa", conta José Abreu Maciel, dizendo que a solução para o problema sempre é apresentada pelos candidatos a prefeito e vereador em período de eleição. Mas, quando estão no poder, de acordo com a população, os gestores públicos esquecem das promessas. "A gente fica esperando pela boa vontade deles, mas já estamos descrentes", reclama.

A dona de casa Leiliane Soares de Sousa, de 15 anos, informa que vive numa família de baixa renda. Porém, mesmo com as dificuldades financeiras, é preciso separar o dinheiro da água, que poderia ser de graça.

Moradores que não quiseram se identificar dizem que, muitas vezes, já foi pedida à atual e antigas gestões a compra de dessalinizadores. Eles denunciam que o abastecimento de qualidade não chega porque há interesses em manter esse comércio.

Em nota, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informa que a concessão do município detida pelo órgão diz respeito à zona urbana, sendo que essas comunidades citadas estão situadas em área rural.

A Companhia orienta que os moradores podem se organizar e pleitear para serem atendidos pelo Projeto São José, do Governo do Estado, que contempla as áreas rurais. Conforme a Cagece, a solicitação de estudo de viabilidade pode ser encaminhada por ofício até Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) ou a Cagece, em Aquiraz.

A reportagem tentou contato com a Prefeitura Municipal de Aquiraz para saber se existe projeto destinado a solucionar o impasse, mas, até o fechamento desta edição, ninguém atendeu aos telefonemas.

RAONE SARAIVA
REPÓRTER

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