Fonte: http://diariodonordeste.globo.com
15.10.2012
O número de vagas em Fortaleza ainda está bem abaixo da demanda para garantir o direito feminino
A creche é um direito da criança e também é uma política pública central que facilita a autonomia econômica das mulheres. Entretanto, a ausência desse serviço na sociedade atual vem se tornando um obstáculo à participação feminina no mercado de trabalho. Em Fortaleza, 10.929 crianças são atendidas em 139 Centros de Educação Infantil (CEIs), sendo 90 municipais e 49 conveniados. No entanto, ainda há uma demanda reprimida que faz com que algumas mães deixem de trabalhar ou acabem pagando por um serviço privado para seus filhos.
A segurança de uma creche para cuidar, educar e alimentar os filhos é essencial para que as mulheres se mantenham no mercado de trabalho e possam contribuir com o incremento da renda familiar Foto: Marília Camelo
Entretanto, o problema não se restringe somente à Capital. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular / SOS Corpo cujo tema foi: "Creche como Demanda das Mulheres por Políticas Públicas", publicada nesta semana, entrevistou 800 mulheres que trabalham, com idade entre 18 e 64 anos em nove Estados mais o Distrito Federal, incluindo a Região Metropolitana de Fortaleza, e identificou um cenário muito aquém do ideal.
A pesquisa se baseou em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011 para fazer as comparações. Inicialmente, foi identificado em dez anos um aumento, significativo, das mulheres no mercado de trabalho nas regiões pesquisadas, passando de 34% em 2002 para 43% em 2012. A mesma pesquisa identificou que 10 milhões de crianças estão em idade de frequentar creches (zero a três anos), mas apenas 21% delas estão matriculadas, o que significa que 79% das crianças das regiões pesquisadas não estão frequentando creches.
A diarista Fátima Cavalcante, mãe de João Ítalo, quatro anos, e Yasmim, cinco anos, conta que já passou por muitas dificuldades devido à ausência de creches próximo à sua casa. Ela mora no Castelão e a creche mais próxima, no Dias Macedo, fica distante 5km de sua residência. "Entro no trabalho às 7h e saio às 18h. Diante da dificuldade, a diarista optou por pagar uma creche particular. "Eu conversei com a diretora e ela acabou me dando um bom desconto".
"Não há como medir demanda"
Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), não há como mensurar a demanda reprimida por vagas em creches, já que parte das mães optam por deixar seus filhos em casa com cuidadores. A coordenadora da Educação Infantil da SME, Fracineide Pinho, reconhece que o percentual de crianças matriculadas nas creches é pequeno diante do total existente na Capital com idade de zero a três anos.
Contudo, ressalta que a Educação Infantil evoluiu, consideravelmente, em Fortaleza nos últimos sete anos. Segundo ela, em 2005, apenas 5 mil crianças estavam matriculadas em creches, hoje já são quase 11 mil. Conforme Fracineide Pinho, a demanda reprimida por creches está sendo suprida de acordo com os pedidos da comunidade. "Somente este ano já inauguramos duas novas unidades e até o fim do ano vamos inaugurar mais três", destaca. Para o próximo ano, a coordenadora acrescenta que a construção de novos 15 Centros de Educação Infantil já está sendo licitada. Ainda segundo ela, não há uma lista de espera específica, pois as matrículas nas creches do município são realizadas durante todo o ano.
A assistente social Verônica Ferreira, pesquisadora do SOS Corpo, um dos institutos responsáveis pela pesquisa "Creche como Demanda das Mulheres por Políticas Públicas", aponta que a falta de creche é um dos principais obstáculos para a autonomia econômica das brasileiras. Ela ressalta que a creche não é apenas um lugar para guardar crianças enquanto as mães trabalham, portanto os Centros de Educação Infantil precisam oferecer um serviço de qualidade do ponto de vista educacional e cognitivo. "O funcionamento das creches existentes não considera a realidade das mulheres no mercado de trabalho. Os horários de funcionamento não são compatíveis com os horários de trabalho das mulheres e com os tempos de deslocamento. Também não considera a realidade daquelas que trabalham à noite ou nos fins de semana", conclui.
SAIBA MAIS
Quadro das creches por regional em Fortaleza
Secretaria Executiva Regional I - 18 creches municipais e quatro conveniadas: 21 creches
Secretaria Executiva Regional II - 13 creches municipais e quatro conveniadas: 17 creches
Secretaria Executiva Regional III - sete creches municipais e 12 conveniadas: 19 creches
Secretaria Executiva Regional IV - 13 creches municipais e duas conveniadas: 15 creches
Secretaria Executiva Regional V - 21 creches municipais e 16 conveniadas: 36 creches
Secretaria Executiva Regional VI - 18 municipais e 11 conveniadas: 31 creches
KARLA CAMILA
REPÓRTER
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