sábado, 25 de julho de 2015

Polícia Federal deve investigar como fóssil saiu do Ceará

Fonte: http://www.opovo.com.br
25/07/2015 
O Departamento Nacional de Proteção Mineral não sabe como a peça fossilizada de uma serpente com patas chegou a pesquisadores estrangeiros. Contrabando é recorrente na Chapada do Arapipe

Rômulo Costa  

DAVID MARTILL/DIVULGAÇÃO
Autores de artigo publicado na revista Science dizem que fóssil saiu do Brasil antes de 1942

Ainda não foi totalmente explicado como o fóssil da cobra de quatro patas foi retirado da Chapada do Araripe e caiu nas mãos dos pesquisadores que o descreveram em artigo publicado na revista norte-americana Science. A suspeita é de que a peça tenha sido levada ilegalmente do sítio geológico que abrange territórios do Ceará, Piauí e Pernambuco. O caso deve ser apurado pela Polícia Federal (PF).

O pedido de investigação será solicitado na próxima semana pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), entidade que regula a exportação de peças do gênero.

Para Felipe Chaves, chefe da Divisão de Proteção de Depósitos Fossilíferos do DNPM, existem indícios que levam à hipótese de tráfico ilegal. A rigor, desde 2006, todo fóssil que sai do País precisa ser registrado no DNPM. Antes, esta liberação era feita pela Receita Federal com o aval do órgão regulador. Porém, não há registros que indiquem a retirada da peça por meios legais.


Os autores do artigo dizem que o fóssil constava “há várias décadas” em uma coleção particular, após seguir para um museu alemão. A saída teria ocorrido antes de 1942, quando foi instituída lei brasileira que proíbe a retirada de fósseis do território nacional sem autorização.

Chaves não acredita na versão dos estudiosos. “Um fóssil interessante como esse não fica tanto tempo guardado sem que um pesquisador se interesse. Até o próprio colecionador ficaria intrigado com a peça”, comenta.

Para ele, o possível contrabando impediu que pesquisadores brasileiros tivessem acesso à peça original. “Os nossos estudiosos têm capacidade de fazer um trabalho igual ou melhor que o apresentado por eles”, lamenta.

Tráfico é recorrente
“Esse não é o primeiro nem vai ser o último caso de tráfico de fósseis por pesquisadores estrangeiros”, assevera Artur Andrade, chefe regional do DNPM, locado na Chapada do Araripe.

Segundo o gestor, mesmo com escritório local e apoio da PF, os casos continuam a acontecer, sobretudo, pela impossibilidade de fiscalização em toda a área do sítio paleontológico que tem 10 mil m². “São peças muito pequenas. Os traficantes põem no bolso e saem, tranquilamente”, diz.

A preservação dos fósseis da Chapada do Araripe é um dos principais atrativos do tráfico, segundo Átila da Rosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP). De acordo com ele, o esquema envolve moradores da região, atravessadores e estudiosos de países estrangeiros. “A solução seria uma fiscalização mais presente nas áreas de mineração”, sugere.

Saiba mais

Descoberta
A descrição da espécie extinta traz evidências de que as cobras surgiram a partir de um grupo de lagartos que viviam em tocas no chão. O estudo foi apresentado pelos pesquisadores David Martill, Nicholas Longrich e Helmut Tischlinger.

Crítica
Em entrevista ao Estadão, Martill classificou a lei brasileira de proteção aos fósseis de “xenófoba e anticientífica”. “Não dou a mínima sobre como o fóssil saiu do Brasil ”, disse.

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